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Banzo por Piquete a "Cidade Paisagem"


Minha terra - sem palmeiras -
exibe mil bambuzais,
que ao som do vento balançam.

Ao reclinar sobre o leito
minha face envelhecida,
chupo canção de amora
nas palavras florestais
vindas no canto brejeiro
desse pequeno sabiá.

Subo essa vida pequena
pela goiabeira da Vida
e, na pontinha dos pés,
enxergo tudo que alcanço
bem na avidez dessa infância,
que, no final da fronteira
feita de sol e de céu,
de neblina ou cerração,
jamais será transportada
dos limites da ilusão.

Minha terra - sem palmeiras -
minha terra - sem limites -
minha terra - tem perdão -
pois, fugi da tua força,
que me detinha em prisão.
Minha terra - era preciso -
procurar sonho de vida
aprisionado na Vida,
num engodo do destino,
longe dessa proteção.

Minha terra - era preciso -
sacudir toda essa infância
grudada,
teimosa,
insana,
na paisagem do fadário
e, deixá-la descansando,
no seu berço visceral.

Minha terra - hoje choro -
o choro da despedida,
que, a mim me entregaste
nas estradas percorridas
rumo à libertação.

Minha terra - hoje choro -
com saudades das esquinas,
da rua de baixo e a de cima,
do parque, do bangalô,
das retretas aos domingos,
do portão da minha casa
donde jamais consegui
em lugar nenhum do mundo
sentir-me tão protegida.

Minha terra - hoje confesso -
descalçada de pureza,
agarrada na esperança
e, perdida, tal a criança,
que um dia te machucou,
ter, jamais, nunca entendido,
qual o segredo afinado
desse som inexplicável,
desse vai e vem incessante
do vento dançando forte
nessa terra sem palmeiras,
onde canta o bambuzal.

Minha terra - sem limites -
é cercada, toda inteira,
pela Serra Mantiqueira.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 1993

Fundo musical: Saudades de Matão ao Acordeon e Violão

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 30/01/2013
Alterado em 20/07/2020
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