Estou na UPA da Siqueira Campos, em Copacabana. Um companheiro do trabalho passou mal e assumi para mim a responsabilidade de socorrê-lo. Neste momento, após três horas de espera, ainda aguardamos atendimento.
Na UPA, um Grito!
No corredor de azedo silêncio,
o tempo estala, o ar não passa.
Uma senhora grita alto —
é a dor que já perdeu a graça.
Não é só dela o brado rouco —
é da espera que dilacera,
da fila que nunca avança,
da tarde que não se encerra.
As paredes tudo escutam,
mas devolvem só o vazio.
O tempo escorre sem clemência
e cada olhar parece frio.
Nos bancos, corpos encolhidos,
olhos vermelhos, mãos trêmulas.
Uns murmuram preces baixas,
outros sussurram ausências.
Chega uma senhora em prantos -
é a dor que escorre no rosto.
Traz nos ombros o peso exato
de um mundo ferido e exposto.
Ninguém pergunta, ninguém toca —
a dor, ali, é comum demais.
Cada qual guarda a sua
como quem carrega os próprios ais.
Do alto, uma voz mecânica
recita nomes — sem calor.
Na tela, um nome pisca e some —
ninguém levanta sem dor.
Há crianças com febre nos olhos,
há velhos calados demais.
Há gestos presos no medo,
há fé trincada nos ais.
Cada suspiro tem história,
cada silêncio, uma oração.
Na UPA, a vida se esgarça
na trama crua da solidão.
Ninguém sorri. Tudo é espera.
Tudo é ausência que se repete.
Na sala, a esperança se cala —
e a tarde, imóvel, se abate em oração.
Rii de Janeiro, 29 de julho de 2025 - 17h50