Textos


Resposta poética a um comentário sem bússola, sem causa e sem guarida.

 

O Gosto do Nordeste

 

Não é lavagem, não —

é memória temperada

em panela de barro,

onde o tempo cozinha

raízes de mil histórias.

 

É feijão-de-corda

com sabor no tempero,

carne de sol que sabe

dos silêncios da seca

e do amor que sobra

mesmo quando falta tudo.

 

 É farinha que dança

no prato do vaqueiro,

é dendê que canta

em orixás e ladeiras,

é pimenta com alma

de quem não teme o mundo.

 

É baião de dois,

com sanfona no fundo,

ritmo quente no prato,

que junta o arroz e o feijão

como quem junta destinos.

 

É tapioca alva,

que estala feito luar

na boca do sertanejo.

Pode vir doce ou salgada,

mas sempre traz aconchego.

 

É acarajé sagrado,

com vatapá de axé,

que enche as ruas de cheiro

e a alma de devoção.

 

É cuscuz amarelo,

na cuscuzeira da vó,

com leite, ovos ou coco,

dependendo do que tem,

mas sempre com muito afeto.

 

É macaxeira quente

com manteiga de garrafa,

que derrete como ouro

sobre a raiz da fartura

em manhã trabalhadora.

 

É a moqueca de peixe,

que borbulha em silêncio

com leite de coco e dendê,

aroma que embriaga

e alma que se entrega.

 

É o queijo de coalho,

assado na brasa viva,

estalando no espeto

tal qual a boa saudade que perfuma o entardecer.

 

É o bobó de camarão,

cremoso como o abraço

de um mar que cozinha

a herança de reis e rainhas

em cada colher de afeto.

 

Chamar de "lavagem"

é cuspir na terra

que alimenta o Brasil inteiro

com sua força de vento

e seu riso de chão rachado.

 

Aqui, cada garfada

é resistência.

Cada cheiro-verde

é oração.

 

O Nordeste não serve lavagem.

O Nordeste serve honra,

e quem prova com respeito

leva um pouco de eternidade

no paladar

 

Sílvia Mota

Poeta e Escritora do Amor e da Paz

Rio de Janeiro, 13 de julho de 2025 - 13h12

 

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Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 27/07/2025
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