O Dia dos Namorados chega ao fim...
Carros, buzinas desagradáveis, pessoas que passam de lá para cá... Ensimesmada, através da janela, busco o meu silêncio e pergunto-me a quem deveria homenagear neste anoitecer. E, assim, não mais que de repente, relembro 2019. Bem antes da pandemia.
Vejo-me a declamar os meus poemas para ouvidos atentos que enfeitavam o brilho daquelas tardes. Cabelos brancos em olhos vestidos com brisa de céu. Voz mansa e professoral. Inteligência aberta para o aprender diário.
De repente, um tanka:
pelo alvorecer
sinal de vida nascente
no canto do galo.
o céu esbanja paixão
em colorido de sonhos.
– “A cada dia que venho aqui aprendo alguma coisa...” Ah! Que presente feliz e inesquecível, a frase pronunciada ao sabor da benevolência! Indubitavelmente, sabia muito mais do que eu. Sábio, sábio... e sábio!
No dia seguinte, a cadeira vermelha ficou vazia... e depois... e depois... e depois... Neste momento, resta-me apenas e tão somente o sabor do nunca mais.
Desafiamos temas relevantes para a sociedade, mas, hoje quero me lembrar apenas dos sorrisos e olhares inteligentes com os quais nos inquiríamos a respeito do passado, do presente, e, de forma provocante, o que seríamos no futuro. Aprendemos a conhecer, um do outro, o que desconhecíamos até então. As guloseimas que nos oferecíamos nunca alcançaram a doçura daqueles momentos, mas, era tão bom oferecer e receber aquele carinho!
Fomos nada mais, nada menos, do que almas poéticas que se (re)encontraram... Havia em nós um deleite indescritível quando admirávamos o balouçar das copas das árvores, que enfeitavam o outro lado da rua. E o canto afinado daqueles pássaros, para o qual aguçávamos os ouvidos? De quando em quando, no céu, nuvens branquinhas e leves nos ofereciam imagens quase indecifráveis, mas, em outros momentos, evidenciavam ciúmes daquela interação, pois escureciam tanto, que você se levantava para ir embora. Guarda-chuva, de prontidão.
Sentirei saudade de você e do quanto enfeitávamos aquelas tardes fagueiras sob a fantasia de que seria eu “La Belle de Jour”. A sorrir, você relembrava os brincos de argola e as saias longas coloridas que usei na minha juventude: - “Parecia uma cigana...” Naqueles momentos, não existiam as barreiras dos anos vividos. Apenas, beleza e mentes sadias.
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Há poucos meses, encontramo-nos... Você dentro do carro e eu na calçada. Com as máscaras do medo, beijamos as mãos um do outro... Momento ligeiro e respeitoso. Última vez.
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Sob a certeza de que escolhi a pessoa perfeita para homenagear no Dia dos Namorados, como toda enamorada o faz, fito o céu escuro em silêncio... por algum tempo eterno, que não tem tamanho... e murmuro bem baixinho: “Peça para aquela estrela pequenina piscar somente para mim. Saberei que serão os seus olhos.”
Ao meu primo querido, Chico Máximo.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 12 de junho de 2021 - 20h58