Princesinha Júlia - três aninhos de vida!
Era uma vez, uma tarde tranquila, no Reino da Felicidade...
Pelos jardins, as flores dançavam festivas e os pássaros empoleiravam-se nas árvores, curiosos para enxergarem dentro do salão colorido que festejava o terceiro aniversário da Princesinha Júlia. Eram trinados e perfumes e sorrisos sem fim.
Provenientes do Palácio dos Sonhos, de uma carruagem encantada desceram o Príncipe Júnior, herdeiro direto do trono, acompanhado pela Princesa Priscila, além dos belos e elegantes Principezinho Pedro e Princesinha Sarah. Um bolo de chocolate e morango exibiu-se vaidoso, ao ser retirado com todas as honras daquele transporte dourado.
Após uma cena de ciúmes, deflagrada no momento em que a Vovó Rainha abraçava os pequenos visitantes com muito carinho, a Princesinha Júlia somente acalmou-se quando colocada ao colo: - "Júlia é a menininha da vovó?" A resposta nasceu aliviada e dengosa:- "Sim." Somente então, sobre o tapete real, aqueles cabelinhos dourados e encaracolados brincaram harmoniosamente com os cabelinhos estilosos dos visitantes.
Parecia tudo tranquilo e sob o controle da Natureza.
- "É o Verde da Sorte!", exclamou a Princesinha Júlia, enquanto brincavam com as massinhas coloridas.
O Príncipe Júnior, absorto na brincadeira das crianças, alertou o Príncipe Gabriel e a Princesa Bárbara, que se entreolharam amorosos, como se perguntassem um ao outro: - "Verde da sorte? Quem ensinou isso para a nossa filhinha?" Dias atrás, a pequenina os surpreendera ao comentar em tom declamatório uma determinada imagem: - "Que dentes assustadores!" (assim mesmo, no plural). De uns tempos para cá, o vocabulário novo e as emoções diferenciadas surpreendem, todos os dias.
Criativo, o Principezinho Pedro moldou uma linda maçã com muitos detalhes e entregou-a para a Vovó Rainha, que o elogiou. Mais do que depressa, a Princesinha Júlia balançou o dedinho indicador e falou com austeridade: - "Não pode comer a maçã!"
Vovó Rainha perguntou-lhe: - "Por que não, minha netinha?"
- "Porque dá dor de barriga, vovó!"
Ciumenta, de verdade, a pequenina...
E a festa prosseguiu, com a Princesinha Júlia exibindo-se o tempo todo nas vestes charmosas que o Vovô e Rei Vascão escolhera para enfeitá-la naquele precioso dia. Vaidosa, não se esqueceu de ostentar a bonequinha com o vestidinho igual ao dela.
Em dado momento, o bolo delicioso, cansado por esperar o momento de glória, saltou das mãos da Duquesa Alexandrina para o centro da mesa, a fim de brincar com alguns docinhos que começavam a se espalhar pela toalha rendada e verde de Esperança. Ao vê-los em algazarra, não mais que de repente, a Princesinha Júlia se levantou do tapete vermelho e expôs autoritária a vontade de cantar o "Parabéns" naquele exato momento. Os amiguinhos imitaram-na e foi uma correria só aquele "pequeno tumulto entre príncipe e princesas". A Rainha, ainda um tanto quanto inexperiente nessa maravilha de ser Vovó, deixou manto, cetro e coroa sobre o trono, e, apenas vestida de Amor, encantou-se com a surpresa proporcionada pela adorável netinha.
Sentaram-se as infantis altezas e a Princesinha Júlia inaugurou sozinha o "Parabéns prá você", a bater palmas efusivas para si mesma. Perante aquela inocente alegria, todos os presentes acompanharam o cantar afinado. A Vovó Rainha quebrou totalmente o protocolo real e cantou a plenos pulmões. Felizmente, o principesco Titio Júnior salvou a festa ao capturar algumas fotos. Estrelinhas dançaram vaidosas ao derredor da vela cor-de-rosa acesa, até que o sopro da princesinha as dispensou. Desapareceram no ar, acabrunhadas. Foi assim, que, pela forma inesperada imposta, tempo não houve para enfeitar a mesa ou registrar o passo a passo do adorável "tumulto infantil".
Por tão feliz, a princesinha descalça esqueceu o sapatinho de cristal deixado à entrada do palácio, para prevenir as más ações do Bruxo Covid-19. Mas, nenhum perigo rondava aquele instante, porque, ao lado dos sapatinhos, sempre fiel, estava Poetrix, o amigo real de quatro patas, que descera do Infinito especialmente para proteger aquela ocasião. De quando em quando, a Vovó Rainha enviava-lhe um olhar agradecido.
Tudo assim, espontaneamente, entre alegria e saudade...
Há dois anos, o Príncipe Rafael e a Princesa Nikole habitam o Palácio do Amor e da Sabedoria em terras holandesas e lá vivenciam os seus desafios e glórias. Mas, ainda que distantes, estiveram presentes o tempo todo nas conversas e nos corações festivos. Inquirida sobre a bonequinha da vez, de pronto, a Princesinha Júlia engatou uma história comprida e finalizou por contar que a bebê ficara "mimindo" no Palácio Flor de Lótus onde moravam. A Vovó Rainha perguntou: - "Quem deu a bonequinha para você?" A menina respondeu: "O diiindoooo". E continuou, com os bracinhos teatralmente abertos: "Rafaaaaaa!"
A Princesinha Júlia fala melodiosamente a respeito das pessoas e/ou coisas que gosta. Sorridente, denomina: - "Vovô Bacããããoooo!" (Vovô Vascão), ou: - "Vovó Siiiilva". Não mais existem a "BoBó" ou a "BoBozinha" - chamamentos que tanto encantavam a Vovó Rainha!
Mudança curiosa nas ações, a princesinha Júlia faz agora "uma pequena história" das coisas sobre as quais lhe perguntam, inserindo-as num contexto todo especial, enquanto ilustra o seu discurso com carinhas adoráveis e gestos compenetrados. Princesa Bárbara, a mamãe atenciosa, confirmou a novidade e disse que é coisa dela, sem nenhuma interferência dos adultos. Para algumas perguntas que lhe fazem, exara uma resposta com início, meio e fim. Linha de raciocínio perfeita. Mas, quando a pergunta não lhe é sedutora, a pequenina responde simplesmente com "Sim" ou "Não".
Repleta de amor e carinho, espontânea, simples, e, ao mesmo tempo, tão perfeita... assim foi a comemoração dos três aninhos da Princesinha Júlia, que, ao final da festa, por exausta que estava, adormeceu nos braços da Mamãe Princesa.
Quando todos se retiraram para os seus palácios, Poetrix depositou aos pés da Vovó Rainha a bolsinha que guardava o batom da pequenina e o sapatinho de cristal, que ficaram esquecidos no portal. Em seguida, dever cumprido, regressou para o seu cantinho na Eternidade.
Um conto de fadas, com final feliz...
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Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 29 de maio de 2021