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Estudo Tuskegee
 
Em 1972, a sociedade mundial tomou conhecimento do Estudo Tuskegee realizado, financiado e desenvolvido pelo Serviço de Saúde Pública dos EUA. A pesquisa durou 40 anos (1932-1972) e envolveu 600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do Alabama, EUA. A  denominação Tuskegee decorreu do nome do centro de saúde onde o estudo foi desenvolvido, de 1932 a 1972. O objetivo da experiência era observar a evolução da sífilis, livre de tratamento. Todos os sifilíticos estavam com a doença em estado avançado quando o estudo começou. Os doentes foram deixados sem o tratamento adequado: a penicilina que já havia surgido como o principal medicamento para a doença.
 
Pontos agravantes da pesquisa
 
1- No decorrer dos longos anos do estudo, os participantes não foram informados que tinham sífilis, nem sobre o que a doença poderia causar. Muito menos foram informados a respeito dos procedimentos adotados, isto é, que lhes eram oferecidos apenas placebos.
2- Os participantes serem todos afro-americanos pobres, grupo em franca desvantagem naquela região dos Estados Unidos, durante o referido período.
 
Segundo Jones (1993, p. 2): "O Estudo de Tuskegee não tinha relação com tratamento. Não foram testadas novas drogas, nem foi feito qualquer esforço para estabelecer a eficácia das velhas formas de tratamento. Foi uma experiência não terapêutica com o objetivo de compilar dados sobre os efeitos da evolução espontânea da sífilis em homens negros. O grau dos riscos tomados com as vidas dos sujeitos envolvidos torna-semais claro quando alguns fatos básicos da doença são conhecidos."
 
O Estudo Tuskegee veio a público em 25 de julho de 1972 no vespertino Washington Evening Star, que trazia em sua primeira página a seguinte manchete: "Syphilis Patients Died Untreated." O texto foi escrito pela repórter Jean Heller, da agência de notícias Associated Press.A denúncia foi publicada à tarde e no dia seguinte era veiculada nos maiores jornais dos Estados Unidos, a exemplo do New York Times.
 
Conforme Patrícia A. King, por tais fatos, em 1974 o Congresso norte-americano criou a National Comission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research (Nacional Comission). Naquele período, King tornou-se membro da comissão nacional quando analisou as ramificações do Estudo Tuskegee no desenvolvimento do Relatório Belmont: Princípios Éticos e Diretrizes para a Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas. Parte desse documento ficou pronto após quatro anos e estabeleceu princípios éticos fundamentais para direcionar condutas consideradas aceitáveis em pesquisas que envolvessem participantes humanos: respeito pelas pessoas, beneficência e justiça. A formulação, pela Comissão Nacional, do princípio da justiça enfatizou a justiça distributiva, isto é, a alocação justa dos riscos e benefícios da pesquisa. A Comissão Nacional estava completamente ciente da vergonhosa história de abusos em pesquisas, tanto nos Estados Unidos como em outros países, e ela citou especificamente o Estudo de Tuskegee como um exemplo de tal abuso.
 
A experiência científica deu origem a um processo de US$ 9 milhões e a um pedido oficial de desculpas do governo norte-americano em 1997, durante a gestão de Bill Clinton. Nesse momento, apenas 8 pessoas ainda estavam vivas. Na época do processo, o advogado dos oito que estavam vivos disse que seus clientes foram tratados como cobaias humanas: "Eles não deram seu consentimento nem foram informados do que estava acontecendo."
 
No dia 16 de maio de 1997, na Casa Branca, um dos sobreviventes do estudo expressou que nunca seria tarde demais para restaurar a fé e a confiança no país e passou a palavra ao presidente dos Estados Unidos, William J. Clinton. O presidente afirmou que o povo americano se desculpava pelas perdas, pelos anos de dor. Admitiu que os participantes do estudo nada haviam feito de errado, mas que haviam sido tratados de maneira inadequada. Disse que se desculpava e que sentia muito que as desculpas houvessem demorado tanto.
 
Referências
 
BONFIM, Jonilda Ribeiro Bonfim. Estudo Tuskegee e a falsa pesquisa de Hwang: nas agendas da mídia e do público. Disponível em: https://redbioetica.com.ar/wp-content/uploads/2018/11/Ribeiro.pdf. Acesso em: 23 ago. 2020.
 
JONES, H. James: Bad Blood: the Tuskegee Syphilis Experiment. New and expanded edition. The Free Press. New York, 1993, p. 1-15.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 23/08/2020
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