PROPOSTA DA PROFESSORA NADIA REGINA BARBOSA DA SILVA
De que forma a mimese está presente e cumpre o que Aristóteles nos revela:
“Para Aristóteles, a poesia não afastava o Homem da verdade, ao contrário: a poesia como mimese, como imitação do mundo, levava o Homem ao conhecimento, pois o imitar seria inerente a ele, em seu processo de cognição do mundo”.
“Aristóteles funda a mimese na possibilidade. Isto é, ao imitar, o poeta não precisa falar do que realmente tenha acontecido, mas do que poderia acontecer, como disse o filósofo: “o poeta fala das coisas não como são, mas como poderiam ser”.
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RESPOSTA
POEMA ESCOLHIDO
Não sei quantas vidas tenho
Autor: Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
O eu-lírico é uma despersonalização, que decorre da sua insatisfação com a própria vida e/ou com o mundo exterior. Em razão disso, Fernando Pessoa criou uma sucessão de heterônimos, sujeitos líricos independentes, com diferentes subjetividades poéticas. Tão independentes são os heterônimos, que o deixam de lado na sua solidão.
A mimese, no poema em destaque, é a reflexão poética sobre a despersonalização do eu-lírico, que se multiplica e se afasta para dele se aproximar.