Análise do soneto de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver"
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Segue uma análise, ainda que simplificada, da letra do poema em destaque, estrofe por estrofe, do desenvolvimento à conclusão.
Amor é um fogo que arde sem se ver (soneto 005)
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
Interpretação:
Na primeira estrofe, a metáfora "amor é fogo" é o tropo que deflagra a composição. A seguir, Camões se apodera do recurso linguístico denominado antítese, que aproxima sentidos impossíveis, como o fogo que não se vê, a dor da ferida que não se sente, a alegria triste e a dor sentida que tortura, mas não dói. Expõe as contradições do Amor, de forma crescente: primeiramente o fogo, em seguida a ferida e depois a dor.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
Interpretação:
Na segunda estrofe, Camões persiste na interação dos pensamentos opostos, sob a finalidade de atingir o ápice do sentimento poetisado. Para alcançar o seu objetivo, a atitude lírica seguida nesta composição acentua-se nas expressões decisivas e absolutas: “não querer mais do que”, “nunca” e “ganhar”, que formalizam a força do Amor.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Interpretação:
Na terceira estrofe, Camões expõe o tema guerra, bastante comum nas cantigas medievais. Reconhece que o Amor é seu inimigo, mas, lhe oferece lealdade - senso de servidão daquele que ama em relação ao ser amado.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.
Interpretação:
Com chave de ouro, Camões finaliza o poema, ao expressar a dualidade do Amor, sofrimento, que, ao mesmo tempo que dói, desperta tanto encantamento.
Sistema rimático
A rima nos quartetos segue o sistema tradicional do soneto renascentista: ABBA, ABBA. Nos tercetos, a rima acompanha a sistemática petrarquiana: CDC, DCD.
Rima A: er
Rima B: ente
Rima C: ade
Rima D: or
Métrica
Os versos são decassílabos: dez sílabas sonoras (sílaba poética ou sílaba métrica). A sonoridade se dá por conta das rimas e da cesura (pausa rítmica) na sexta sílaba tônica.
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PROPOSTA DO PROFESSOR
CARLOS ALBERTO DE CARVALHO
SEGUNDO SEMESTRE DE 2016
Selecione um soneto de Luís de Camões e faça um comentário, analisando o tema desenvolvido no poema.
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 21/06/2020
Alterado em 26/10/2020