TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNERO TEXTUAL
Hodiernamente, em nossa interação com o mundo, deparamo-nos com uma grande porção de textos verbais e não verbais, os quais se exibem nas mais diversas formas e nos mais díspares lugares, conforme a finalidade sociocomunicativa com que foram cunhados. O fato é que se torna impraticável comunicar-se verbalmente, sem que o façamos por meio de um texto
Para Marcushi (2002, p. 22) o termo Tipologia textual é usado para designar “[...] uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).” Segundo o autor: “[...] os tipos textuais constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados e não são textos empíricos” (MARCUSCHI, 2002, p. 23). Teoricamente, os tipos textuais são designados como narrativos, descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos. Gênero textual é definido pelo autor como uma noção vaga para os textos materializados, encontrados no dia-a-dia, e que apresentam características sociocomunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Os gêneros textuais são construídos por dois ou mais tipos textuais, em geral. A presença de vários tipos textuais em um gênero é denominada de heterogeneidade tipológica.
Para Bakhtin (1992, p. 279-281): "A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. Cumpre salientar de um modo especial a heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais ou escritos), que incluem indiferentemente: a curta réplica do diálogo cotidiano (com a diversidade que este pode apresentar conforme os temas, as situações e a composição de seus protagonistas), o relato familiar, a carta (com suas variadas formas), a ordem militar padronizada, em sua forma lacônica e em sua forma de ordem circunstanciada, o repertório bastante diversificado dos documentos oficiais (em sua maioria padronizados), o universo das declarações públicas (num sentido amplo, as sociais, as políticas). E é também com os gêneros do discurso que relacionaremos as várias formas de exposição científica e todos os modos literários (desde o ditado até o romance volumoso). [...] Não há razão para minimizar a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso e a consequente dificuldade quando se trata de definir o caráter genérico do enunciado."
Dada à complexidade da vida social contemporânea, os gêneros textuais são numerosos como: poema, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, lista telefônica, cardápio de restaurante, conversação espontânea, telefonema, resenha, e-mail, blog, para citarmos apenes alguns exemplos. Assim, os gêneros textuais contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. Como é possível perceber, a diversidade dos gêneros é uma realidade pelo fato de que podem apresentar formas tão diversas quantas são diversas as atividades humanas. Destarte, podem ser chamados gêneros textuais tanto uma conversa informal entre duas pessoas como uma conferência; tanto um relato oral produzido no interior de uma conversa como uma lei constitucional; tanto um relatório de estágio como uma crônica de viagem.
Para melhor percebermos as diferenças e as necessárias articulações entre gênero textual e tipo textual, ouçamos o pensamento de Marcuschi (2002, p. 25) sobre essas duas importantes categorias: "Em geral, a expressão ‘tipo de texto’, muito usada nos livros didáticos e no nossa dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo ‘a carta pessoal é um tipo de texto informal’, ele não está empregando o termo tipo de texto de maneira correta e deveria evitar essa forma de falar. Uma carta pessoal que você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, horóscopo, receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação casual, entrevista jornalística, artigo científico, resumo de um artigo, prefácio de um livro. É evidente que em todos esses gêneros também estão se realizando tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um texto é tipologicamente variado (heterogêneo). Veja-se o caso da carta pessoal, que pode conter uma sequência narrativa (como uma historinha), uma argumentação (argumenta em função de algo), uma descrição (descreve uma situação) e assim por diante.
Abaixo, transcrevemos um quadro sinóptico das diferenças entre tipos textuais e gêneros textuais, consagrado por Marcuschi (2002, p. 23):
TIPOS TEXTUAIS
1. Constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas.
2. Constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos.
3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal.
4. Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição
GÊNEROS TEXTUAIS
1. Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas.
2. Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas.
3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determina das pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função.
4. Exemplo de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais, etc.
Através do quadro aqui exposto, é possível melhor visualizar as diferenças entre essas duas categorias importantes para o ensino da leitura e da escrita.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A.; MACHADO, a. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucena, 2002.
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 21/06/2020
Alterado em 21/06/2020