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LITERATURA COMPARADA:
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Qual a amplitude da Literatura Comparada?
 
Toda análise precisa receber recortes, pois não conseguimos dar conta da complexidade de nenhum objeto ou fenômeno valendo-nos de apenas uma perspectiva de análise. Quando estudamos certas escolas críticas ou as primeiras escolas da Literatura Comparada, verificamos que elas sempre estabelecem certos parâmetros que lhes dê uma identidade e que lhes seja um guia. No entanto, tais parâmetros apresentam sempre uma limitação, que produz um esgotamento e que acaba por precipitar mudanças. É o que vimos acontecer com a Literatura Comparada que foi ampliando as suas fronteiras para várias áreas do conhecimento, tipos de textos e metodologias.

Mesmo hoje, após tanta abertura, uma pesquisa em Literatura Comparada não consegue contemplar toda a diversidade do que analisa. Por isso, os muitos trabalhos e o constante diálogo entre eles, no sentido de um complementar o outro, dada a complexidade da tarefa analítica. Aliás, é possível colocar em comparação também as diferentes perspectivas adotadas entre dois estudos comparatistas, ou seja, em vez de comparar obras, comparar dois estudos.

Comparar sempre gera certo grau de tensão entre dois ou mais elementos e isso é fundamental para a reflexão, para a percepção mais apurada da natureza de cada coisa, para a elaboração criteriosa de juízos de valor, enfim, para a construção do conhecimento daquilo que se pretende compreender.

A necessidade de estabelecer parametros para a Literatura Comparada

Sem parâmetros, não temos condições de comparar com qualidade, pois a comparação exige certa diversidade. No caso da Literatura Comparada, a ausência de parâmetros rígidos (e nem poderia em função da natureza dos fenômenos que ela analisa) propiciou o caráter multidisciplinar e abrangente que ela tem hoje. Ao contrário do passado, atualmente mobiliza-se uma quantidade grande de saberes o que tem contribuído muito com os estudos interartes.

Dificuldades da Literatura Comparada

A Literatura Comparada vai além das fronteiras. Ela rompeu desde o início com várias dificuldades: 1) a linguística ao comparar literaturas de línguas distintas e, dessa forma, contribuiu enormemente com os estudos de tradução e de divulgação de literaturas estrangeiras e 2) ao inserir no âmbito das pesquisas comparatistas as literaturas que fugiam do espectro eurocêntrico, muito prestigiado pelos estudos literários até metade do século XX.

Finalidade da Literatura Comparada
Como ensina a Tânia Carvalhal, em Literatura Comparada não se compara por comparar, ou seja, não é o método pelo método, há sempre finalidades e intenções. O método é apenas um caminho que se escolhe para conduzir um estudo, para orientar alguma descoberta, conduzir a uma conclusão ou mesmo contribuir com a ampliação de algum conhecimento que não se tinha antes de percorrer o caminho. Assim como nas práticas rotineiras de comparação, nós comparamos com alguma finalidade, o mesmo ocorre com os estudos comparatistas que sempre partem de alguma(s) hipótese(s) sobre os fenômenos que irá analisar.

Comparar constrói saberes. No caso da Literatura Comparada, ela tem como objetivo colocar obras, culturas, autores, tempos, conceitos e áreas em diálogo. Ao colocar tudo isso em contato e em análise, tomamos conhecimento da riqueza e da troca cultural que há em toda produção humana.

Atualmente o escopo da Literatura Comparada ampliou-se. Ela pode tanto comparar duas literaturas quanto comparar a literatura com outras linguagens. A comparação também não se reduz necessariamente a dois objetos de análise.

Sugiro visita ao site da ABRALIC para ver como os estudos comparatistas estão sendo feitos atualmente. Eis o site: http://www.abralic.org.br/

A intertextualidade na Literatura Comparada
 
A intertextualidade em seu sentido lato é uma condição do texto. Às vezes, ela está explícita num texto, como um recurso de composição; às vezes está embutida em suas tramas sem que percebamos ou insinua-se desafiando a erudição do leitor. De todo modo, a intertextualidade lançou luz e consciência sobre esta dinâmica dos textos e  impôs também outra maneira de lermos, pois expressa, insinua ou aponta os contatos de um texto com outro. Por isso, dizemos que a teoria da intertextualidade reposicionou os estudos comparatistas.

Perceber o processo de composição de uma obra e os diálogos que ela trava com outros textos é fundamental para compreendê-la. A capacidade de comparar e de identificar elementos é muito importante na construção de uma leitura e de uma análise literária mais criteriosas. Por isso, a teoria da intertextualidade reposicionou os estudos comparatistas e requer de todos nós a contínua ampliação do nosso repertório cultural, pois é a partir dele que seremos capazes de ler o texto estabelecendo as relações que ele próprio insinua.

A literatura comparada utiliza-se da transversalidade para explorar diversas várias do conhecimento, ou seja, ele não possui uma abordagem fechada nela mesma, mas expande suas pesquisas para muito além da literatura.

A Literatura Comparada confronta-se com algumas indefinições que não são compartilhadas com todos os ramos da Teoria Literária e nem com todas as disciplinas. Por ampliar a sua perspectiva de análise, por variar a natureza dos seus objetos de comparação e por colocá-los em diálogo entre si e com muitas áreas do conhecimento, a Literatura Comparada é considerada uma disciplina de entremeios. Ela se apropria de várias áreas do conhecimento e, igualmente, coloca-se a serviço de várias áreas do conhecimento também.

A comparação permite aproximarmos literaturas e outras artes que dificilmente entrariam em mútuo contato umas com as outras se não fosse pela pesquisa. Ao provocar certos encontros, não raramente os estudos comparatistas acabam por descobrir muito mais do que a hipótese inicial prevista pelo estudo. Por isso, a Literatura Comparada foi requisitando outras áreas para subsidiar as suas pesquisas.

Perspectiva cosmopolita da Literatura Comparada

Sobre a perspectiva cosmopolita da Literatura Comparada, está diretamente ligada às transformações pelas quais a área passou. A Literatura Comparada surgiu muito restrita, apresentou uma fase de estudos muito voltada às produções europeias e, aos poucos, passou a ampliar o seu horizonte de interesses. Hoje, ela dialoga com literaturas do mundo todo, além de ter incorporado ao seu campo de interesse o estudo de outras linguagens também, como o cinema, por exemplo.

A Literatura Comparada provém de estudos culturais ou comparatismo cultural?

Sobre o trecho em epígrafe, na verdade, trata-se de uma ironia. A Literatura Comparada e os Estudos Culturais, embora apresentem interfaces, são disciplinas e campos diferentes, mas os seus parâmetros, de fato, não são fixos. Ambas as áreas apresentam múltiplas abordagens, são interdisciplinares, valendo-se de muitos saberes para analisar os seus objetos de estudo. Por isso a comparação com os Estudos Culturais. Muitos acreditam que a Literatura Comparada ampliou demais o seu escopo, descaracterizando-se.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 21/06/2020
Alterado em 21/06/2020
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