A história do leão e do seu reflexo
Tornei-me budista em 1982. Desde então, escuto uma história muito bonita, que me faz repensar os momentos de dificuldades que ultrapasso pela vida. Diz respeito à coragem que se deve ter frente à decisão de "dar o primeiro passo" ou permanecer estagnado pelo sofrimento, que, às vezes, parece intransponível.
Segue a história do leão:
Era uma vez um leão que vivia em um deserto. Lá, o vento soprava muito forte e por isso a água das lagoas onde todos os animais bebiam nunca ficava parada. As potentes rajadas ondulavam a superfície das lagoas e nada nunca se refletia nelas.
Um dia, o leão entrou no bosque onde costumava caçar e, em seu tempo livre brincar, até que se sentiu cansado e com sede. Procurou água, até chegar a uma lagoa que continha o líquido mais fresco, tentador e suave que nunca ninguém pode imaginar.
O leão aproximou-se da lagoa, estendeu o pescoço e tentou beber um bom gole. De repente, viu o seu próprio reflexo e assustou-se ao pensar que se tratava de outro leão que estava na sua frente.
“Essa água deve pertencer a outro leão, melhor eu sair daqui, com muito cuidado”, pensou o animal. Retrocedeu, mas, então, a sede o fez voltar novamente para a lagoa. Outra vez, viu a cabeça de um temível leão com uma grande juba que devolvia o olhar desde a superfície da água.
O leão dessa história se agachou à espera do momento oportuno para afugentar o “outro leão”. Como estava acostumado a fazer para marcar seu território ou demonstrar que se encontrava em seu lugar, abriu seu enorme maxilar e deu um terrível rugido. Mas, é claro, assim que mostrou os seus dentes, a boca do “outro leão” também se abriu; o que pareceu uma terrível e perigosa visão para o nosso leão.
Uma e outra vez o leão se afastava, mas logo tomava coragem para voltar até a lagoa e sempre tinha a mesma experiência. Depois de um longo momento, contudo, estava tão sedento e desesperado que se decidiu: “Com ou sem outro leão, beberei dessa lagoa da mesma forma!” Assim que o leão mergulhou a cabeça na água… o “outro leão” desapareceu!
Depreende-se da moral embutida nessa história que, muitas vezes, somos os nossos piores inimigos e que é preciso "dar o primeiro passo" na constituição desse terrível mal. Mas, para que isso ocorra, é preciso que nos distanciemos do problema e, se necessário, que solicitemos ajuda àqueles que nos querem bem. Ainda que seja muito, muito difícil tomar essa decisão, faz-se necessária. Trata-se de um sábio exercício.
Sem o temido "primeiro passo", jamais será admirada a vista que se expõe ao topo da montanha. Por tal motivo, os medos e as inseguranças necessitam ser dominados pelas mentes sábias. As novas oportunidades surgem a partir dos nossos desafios e a certeza interior de que quaisquer obstáculos serão vencidos. Até mesmo frente à morte - inevitável acontecimento, que alcança a todos os mortais - valerá a postura de cada um. Compreender a vida e a morte como fatos naturais é uma grande vitória.
Quando as vicissitudes desagradáveis colocam-se pelos meus caminhos, lembro-me da postura do Leão - admiravelmente reconhecido como o "Rei das Selvas" - e procuro agir da mesma forma:
Ser cuidadosa, mas nunca estagnar indefinidamente.
Enfrentar os medos e desafiar as dificuldades.
Agir, em direção à concretização de uma vida digna e respeitável.
Sempre.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 15 de Julho de 2018 às 1:36pm
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 30/07/2018
Alterado em 30/07/2018