INRI e a bela cruz de ouro
(Conto - Ficção Fantástica)
INRI nasceu príncipe. Ainda pequenino, pela rivalidade dos pais com uma bruxa má, recebeu o destino de viver afastado de todos os seres humanos, preso a um fétido calabouço escuro. Contudo, sua fada madrinha amenizou o sortilégio, oferecendo-lhe uma bela cruz de ouro maciço, onde ficaria preso por toda a vida. Na parte superior do objeto maravilhoso, diamantes de raríssimo jaez inscreviam seu nome. Cresceram juntos, INRI e a cruz. Nenhum mal o alcançava. Seu alimento descia dos céus, na névoa da manhã. Pássaros, também dourados, formavam uma cortina de asas, enquanto o rei e a rainha abriam a finíssima camada de cristal que o separava dos simples mortais. Nesse sutil momento, INRI deliciava-se com as iguarias que lhe eram oferecidas e banhava-se ao perfume das flores que os bem-te-vis lhe ofertavam. Em seguida, voltava ao cárcere de ouro.
INRI cresceu, sempre submisso a todos os que dele se acercavam. Muitos o invejavam, pela imensa fortuna que o envolvia. Tornou-se um belo jovem. Alto, forte e musculoso. No entanto, seu pensamento viajava por caminhos desconhecidos. Desejava livrar-se daquele pesadelo que o consumia nas noites insones. Não podia viver como os demais seres humanos e isso o entristecia.
No dia do seu 33° aniversário, o castelo amanheceu em rebuliço. Flores foram espalhadas por todos os cantos e um tapete vermelho, bordado a ouro, esparramou-se pelo chão, do portal do castelo até o trono dos reis. Guloseimas, das mais ricas, preencheram as compridas mesas, cobertas por toalhas de linho ornadas de filigranas festivas.
INRI, angustiado, desejava saber o que se passava nos domínios do castelo. Quando a noite caiu, rufaram-se os tambores e de bela carruagem desceu uma princesa e sua dama de companhia. Ambas, formosas como um suspiro dos céus.
A princesa fora prometida ao belo INRI, num acordo firmado por seus pais, mas... ah!... destino cruel! Nos dias que se seguiram, o príncipe apaixonou-se pela jovem e doce criada, que correspondeu ao seu amor. O rei, a rainha e a princesa, perceberam a troca de olhares e enviaram de volta ao seu reino, a bela serviçal.
INRI, que desde a infância fora submisso, protestou! Queria sua amada de volta. Descobrira o amor e nada o impediria de tê-lo. Seus olhos lacrimejaram mares imensos, por muitas e muitas noites...
Certa madrugada, em intensa agonia, gritou aos céus todas as mágoas e tal era a força daquele amor, que a estrutura de ouro rompeu-se aos seus músculos de aço. Livre da opressora cruz, INRI orou, orou... e orou... até transformar-se em ave dourada, que ao farfalhar das asas saiu à procura da amada, a brilhar no estertor da noite.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2014 – 3h29
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 03/04/2017