Comentário à publicação de María Cristina Garay Andrade
Poetas e Escritores do Amor e da Paz:
http://peapaz.ning.com/group/neurociencia/forum/topics/hemisferios-cerebrales-y-el-procesamiento-de-la-informacion
Esse tema é inquietante!
Plenamente aplicável ao processo de desenho e pintura.
Nesse sentido, lembrei-me dos exercícios que fiz, em 1991, nas aulas de modelo-vivo, com desenho cego. O processo consistia em desenhar, no caso, com carvão sobre papel canson, sempre com os olhos fixos no modelo e nunca no desenho. Segundo o meu professor Gianguido Bonfanti (Casa de Cultura Laura Alvim), trazemos imagens prefixadas no cérebro e isso atrapalha nosso processo criativo. Quantas vezes, desenhamos "o que queremos" e não "o que vemos"? E isso ficou bem evidente nas aulas de modelo-vivo. Na realidade, a tentação de olhar para o papel era incrível! Mas, consegui levar o exercício em frente... Como resultado, criei obras bem interessantes e meu professor chegou a dizer que meus desenhos cegos eram melhores dos que aqueles que não eram cegos... Criei indivíduos deformados: ora com três braços ou com uma perna somente, ora com mais de dois olhos... e assim por diante... Isso ocorre, porque em determinado momento, não nos lembramos mais do que foi desenhado. Em outra oportunidade, o professor desafiou-nos a desenhar somente os espaços negativos do modelo apresentado - somente as sombras. Grande exercício, para cérebros preguiçosos! kkkkk...
Procurarei aqui em casa, para ver se guardei alguns desses interessantes exercícios...
No primeiro semestre de 1992, tive aulas com o Professor Charles Watson (Escola de Artes Visuais do Parque Lage), quando passei pelo mais inquietante processo criativo, de toda a minha vida! Levou-me à escolha livre de um objeto, com determinada medida (não me lembro qual) e que apresentasse entrâncias e reentrâncias. Escolhi um registro de torneira, mais ou menos assim (não tenho o original, que era todo prateado):
Durante um semestre, dediquei-me somente ao referido objeto. Ao acordar, era a primeira imagem que via, ao adormecer, a última imagem. Meu cérebro "embebedou-se" daquele registro de torneira. Proposta louca, não é? Mas, fascinante! Alguns alunos desistiram e não chegaram ao final do curso.
Durante todo o processo, o material permitido: papel canson e pó de grafite. Nenhuma cor e nenhum outro material.
Num primeiro momento, desenhei o objeto como se apresentava aos meus olhos - de forma realística. Sempre com a orientação de comandar o cérebro na percepção das linhas que se apresentavam aos meus olhos. Realizei vários desenhos, mas não guardei fotos, porque ainda não tinha consciência do quanto seria rica aquela experiência.
Em seguida, o desafio foi oferecer um contexto ao objeto. As folhas de papel canson eram inseridas, de acordo com a necessidade de ampliação do desenho e, uma vez integradas, não seriam mais retiradas. Meu cérebro, que se adaptasse ao novo espaço e criasse novas formas - sem no entanto - fugir do objeto inicial.
Após alguns dias, muito stress e até mesmo lágrimas (a pressão era rigorosa e intensa!) nasceu minha obra, que foi considerada a mais criativa dentre todas as demais apresentadas. Muita emoção, pois, afinal, um elogio do Professor Charles Watson é dificílimo! rsrsrsrs...
Como se não bastasse, nova proposta: criar o maior número possível de desenhos independentes.
Criei mais de 30.
Eis alguns:
Somente então, passamos ao segundo semestre - a pintura propriamente dita - e muitas obras nasceram desse processo.
Eis a primeira - MODULAÇÃO AZUL
Processo: Acrílica sobre Tela. Tamanho: 1.10m x 1.50m. Meu acervo particular.
Outra - GÊNESIS
Processo: Acrílica sobre Tela. Tamanho: 1,20m x 2,00m. Acervo: Dr. Vanius Meton Gadelha Vieira
Perceba-se, nas obras, referência à proposta inicial: as formas do registro de torneira.
Em 1993, para desvencilhar-me de um possível aprisionamento ao rigor da forma, tive aulas com Professor Mollica (Escola de Artes Visuais do Parque Lage) e realizei exercícios de modelo-vivo, cujo tempo de duração era muito curto e o material restrito. No caso, 15 minutos, com tinta guache sobre papel canson. Ocorreu inibição inicial, mas o segredo foi não me deixar travar e seguir com a pintura, observando e colocando no papel o que via no modelo. Desse exercício, guardo três exemplos:
Ainda que a música permaneça nos exercícios das minhas infância e adolescência, nunca olvidei a escrita - poética ou científica. Portanto, acredito que os meus lados direito e esquerdo do cérebro tenham trabalhado muito nesses 64 anos de vida... kkkkkk...
Não compreendo a afirmativa de que ao exercitar um lado do cérebro anula-se o outro. Para mim - leiga no assunto - existe um trabalho contínuo dos dois lados.
Disso tudo, a certeza de que o cérebro precisa ser provocado e exercitado, constantemente, como salientaste em tua primeira publicação neste grupo.
Beijossssssssss
P.S. Perdoa-me a extensão do comentário, mas teu post é deveras provocativo.
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 05/12/2016