Alguns antecedentes da Língua Portuguesa
Professora Sílvia M. l. Mota
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A língua portuguesa exibe uma enriquecedora e atraente história entre as línguas de origem europeia. Em decorrência das navegações portuguesas, nos séculos XV e XVI, tornou-se um dos poucos idiomas em evidência na África, América, Ásia e Europa.
Os primeiros textos escritos em português surgem no século XIII. Nessa época, o português não se distingue do galego, falado na província (hoje espanhola) da Galícia. Essa língua comum — o galego-português ou galaico-português — é a forma que toma o latim no ângulo noroeste da Península Ibérica (TEYSSIER, 2001, p. 6).
A partir de 218 a.C., com a invasão romana da península, e até o século IX, a língua falada na região é o romance, uma variante do latim que constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas (português, castelhano, francês, etc.) (XAVIER, 2010, p. 265). Essa fase é considerada a pré-história da língua.
Durante o período de 409 d.C. a 711, povos de origem germânica instalam-se na Península Ibérica. O efeito dessas migrações na língua falada pela população não é uniforme, iniciando um processo de diferenciação regional. O rompimento definitivo da uniformidade linguística da península irá ocorrer mais tarde, levando à formação de línguas bem diferenciadas. Algumas influências dessa época persistem no vocabulário do português moderno em termos como roubar, guerrear e branco (FATOS históricos...).
Em 711 os muçulmanos invadem e em pouco tempo conquistam a Península Ibérica, com inclusão da Lusitânia e da Gallaecia. Esses muçulmanos eram árabes e berberes do Maghreb. Tinham o Islão como religião e o árabe como língua de cultura, mesmo aqueles que falavam o berbere. Os povos ibéricos chamaram-nos “mouros” (TEYSSIER, 2001, p. 7). Durante seu domínio, florescem as ciências, a agricultura, o comércio e a indústria.
Na realidade, palavras de origem germânica haviam penetrado no latim muito antes da invasão dos suevos e dos visigodos e encontram-se também em outras línguas românicas. Assim: português guerra (fr. guerre), guardar (fr. garder), trégua (fr. trêve). Outras, mais raras, só aparecem em português e em espanhol e devem ter sido introduzidas pelos visigodos; ex.: port. e esp. ganso, port. luva e espanhol antigo lúa. Ressalte-se também que as palavras portuguesas de origem germânica pertencem principalmente a determinados campos semânticos, tais como a guerra (guerra, rouba, espiar), a indumentária (fato, ataviar), a casa e seu equipamento (estaca, espeto), os animais (ganso, marta). Acrescentem-se ainda formas como agasalhar, gana, branco, brotar. Note-se, por fim, que grande número de nomes de pessoas (Fernando, Rodrigo, Alvaro, Gonçalo, Afonso, etc.), assim como de topônimos (Guitiriz, Gomesende, Gondomar, Sendim, Guimarães, etc.), remonta aos suevos e aos visigodos (TEYSSIER, 2001, p. 18).
A influência árabe sobre o vocabulário latino é grande. A longa permanência dos muçulmanos em terras da Península deixou a sua marca tanto no português como no espanhol (TEYSSIER, 2001, p. 18). As principais áreas que recebem contribuições lingüísticas são: agricultura (arroz, azeitona, açucena, alface), ciências e técnicas (alfinete, alicerce, alicate, azulejo, almofada), profissões (alfaiate, almocreve), organização administrativa (alcaide, almoxarife, alfândega), culinária (acepipe, açúcar, azeite, javali), vida militar (alferes, refém) e urbana (arrabalde, aldeia). As palavras de origem árabe começam geralmente com o artigo definido al (por exemplo, almofada, de al + mohada), sendo, às vezes, o l assimilado pela consoante seguinte (azeitona, al + ceitun). Além destes substantivos, o árabe deixou também alguns adjetivos (mesquinho, baldio) e uma preposição (até). No período que vai do século IX (surgimento dos primeiros documentos latino-portugueses) ao XI, considerado uma época de transição, alguns termos portugueses aparecem nos textos em latim, mas o português (ou mais precisamente o seu antecessor, o galego-português) é essencialmente apenas falado na Lusitânia. Algumas contribuições dessa época ao vocabulário português atual são: arroz, alface, alicate e refém (SANTOS).
No que diz respeito às palavras eruditas e semi-eruditas, o recurso a empréstimos feitos diretamente ao latim ascende a época muito remota, e nunca deixou de ser praticado. Entre as palavras “semi-eruditas”, isto é, aquelas de entrada mais antiga na língua, podemos incluir mundo, virgem, clérigo e a sua variante crérigo, diaboo, escola, pensar (cuja variante popular é pesar). Outras são mais recentes, por exemplo os adjetivos em -ico (cf. plobico, ou seja “público”, num documento de 1303)18. Para dar uma idéia da complexidade e da abundancia destes empréstimos, assinalaremos alguns colhidos ao folhear o glossário das Cantigas d’Escarnho e Mal Dizer na edição de Rodrigues Lapa (Editora Galáxia, 1965). Encontram-se aí alegoria (no sentido de “ciência, arte”), animalha (animal irracional), apóstata, arcebispo, arcediano (hoje arcediago), bautiçar (baptizar), beneficio, calendairo (hoje calendário), câncer, ciença (“ciência”), citolon e citolar, derivados de cítola (de cithara), confessar, confirmar defeso, defesa, defenson, eiceiçon (“excepção”), estrologia-astrologia, estrolomia (“astronomia”), fisico (médico), natura, natural, ofício, entre outras (TEYSSIER, 2001, p. 30).
Das línguas indígenas, o português herdou palavras ligadas à flora e à fauna: abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha, araponga, aipim, guri, tapioca, guará, Paraná, bem como nomes próprios e geográficos (SANTOS).
Do banto: samba, acarajé, angu, banana, batucada, macumba, bunda, afoxé, iemanjá, vatapá, caruru, maconha, moleque.
Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebe novas contribuições: surgem termos de origem greco-latina para designar os avanços tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática (por exemplo, check-up e software), entre outros (SANTOS).
O português é a língua oficial em oito países de quatro continentes: Angola (10,9 milhões de habitantes), Brasil (185 milhões), Cabo Verde (415 mil), Guiné Bissau (1,4 milhão), Moçambique (18,8 milhões), Portugal (10,5 milhões), São Tomé e Príncipe (182 mil) e Timor Leste (800 mil) (MEDEIROS).
Em 1996, foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que reúne os países de língua oficial portuguesa com o propósito de aumentar a cooperação e o intercâmbio cultural entre os países membros e uniformizar e difundir a língua portuguesa.
REFERÊNCIAS
FATOS históricos da língua portuguesa. Iplugados, [s. l.]. Disponível em: http://iplugados.iportais.com/cultura3.html. Acesso em 2 jun. 2015.
FILHO, Francisko. A língua portuguesa. Professor Francisko Filho, [s. l.]. Disponível em: https://sites.google.com/site/professorfranciskofilho/home. Acesso em 2 jun. 2015.
MEDEIROS, Adelardo Adelino Dantas de. A língua portuguesa: o português no mundo. A língua portuguesa, Natal. Disponível em: http://www.lingua
portuguesa.ufrn.br/pt_index.php. Acesso em: 3 jun. 2015.
SANTOS, Paulo. A história da língua portuguesa. (Slides). Disponível em: http://slideplayer.com.br/slide/1804277. Acesso em: 20 out. 2016.
TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. Tradução de Celso Cunha. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Disciplinas: apoio às disciplinas da USP, São Paulo. Disponível em: https://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/158086/mod_resource/content/1/TEYSSIER_%20HistoriaDa
LinguaPortuguesa.pdf. Acesso em: 20 out. 2016.
XAVIER, José. Cultura geral I. Joinville: Clube de Autores, 2010. 683 p.