Meus Fantasmas queridos… perdidos…
Certos fantasmas ousam vir a mim...
Inda arrogantes, chegam do passado
a gritar meu nome às noites de luar...
Em correntes de peso ruidosas
embalam seus delírios imorais,
arrastam pelo chão a eternidade,
que já não cabe no castelo verde
onde escolhi viver pelos meus dias.
E então feliz, à luz do dia lindo,
visto o avental curtinho e todo branco,
demarco a cintura em lindo laço,
preparo iguarias saborosas,
retiro da adega, nunca usada,
o vinho, safra antiga e requintada...
Espalho, assim, ao chão vitrificado,
rosas vermelhas lindas, perfumadas...
Depois, subo ao meu quarto,
desfolho minha flor ao banho quente,
enfeito-me de rendas pelo corpo
e, de cetim, a cama que me aguarda...
Perfumo ao espelho meus cabelos,
deixando-os rolar por sobre os ombros
e, por ali, na solitude do entre sonhos,
entrego-me servil aos meus poemas.
Quando amanhece escuto o dia pleno,
aos pássaros que trilam à janela.
Meu Poetrix se esgueira apaixonado,
fareja o quarto inteiro, o cão de guarda,
e, ao sentir-me fiel, lambe-me os pés,
descendo junto a mim pelas escadas,
à busca de outro dia de emoções.
Bem lenta... nenhum medo ou desdém...
Percebo as iguarias devoradas,
as taças de cristal pela metade
e, tudo enfim, assim.... ao meu desejo...
Aos meus fantasmas todos, um a um,
permito olhar-me... bela e pura.
Cedo à vaidade fêmea, mas que não me toquem,
pois jazem noutro plano – o da amargura,
distante do meu céu, que é só ventura!
Fantasmas que amei... inda estou viva!
Retornam toda noite, sei que voltam...
Penetram-me as paredes, querem ninho,
mas, ao intuírem fria indiferença,
mergulham nas paredes, vão-se embora...
Fantasmas que amei... inda estou viva!
Se hoje vagueiam dúbios, noite adentro,
encontro-me em paz, por teus pecados!
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Cabo Frio, 8 de novembro de 2009 – 21h15