Mulheres, depressão e café
Depressão
Na elocução corrente, o vocábulo depressão tem sido empregado para nomear tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias) doença(s).
Eis a palavra de José Alberto Del Porto sobre o tema:
“Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas.
Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).
Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc.”
O paciente depressivo apresenta humor sob a forma de sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa. Permanece triste a maior parte do dia e quase todos os dias. Tudo na sua vida é fútil, ou sem real importância. Acredita que perdeu, de forma irreversível, a capacidade de sentir alegria ou prazer. Atividades anteriormente apreciadas não mais o motivam. Evidencia-se a diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Em consequência, sentimentos desesperançados sobrelevam, levando-o a desprezar-se. No contexto familiar considera-se literalmente um peso morto. Alcançado este estágio, pensamentos suicidas assomam com facilidade, pois invoca a morte para mitigar o sofrimento dos que o assistem na doença. A depressão é doença potencialmente fatal. O quadro aqui descrito, para ser considerado depressivo deve perdurar ao menos por duas semanas.
Café e cafeína
A cafeína é amplamente utilizada como estimulante do sistema nervoso central, com cerca de 80% consumido sob a forma de café. Não obstante, estudos que analisam prospectivamente a relação entre o café ou a cafeína, seu consumo e risco de ocasionar depressão são escassos.
Pesquisa publicada em 2011
Em 26 de setembro de 2011 publicou-se estudo no periódico científico Archives of Internal Medicine, que demonstra ser menor a chance de depressão nas mulheres que consomem café regularmente.
Num lapso temporal de 10 anos (entre 1996 e 2006), a pesquisa abarcou o acompanhamento de mais de 50 mil mulheres com média de idade de 63 anos, livres de sintomas depressivos. Ao término do estudo identificou-se incidência de depressão em 2.607 casos.
Em comparação com as mulheres que consumiram 1 ou menos xícara de café com cafeína por semana, o risco relativo multivariado de depressão foi de 0,85 (intervalo de confiança 95%, 0,75-0,95) para aquelas que consumiram 2 a 3 xícaras por dia e 0,80 (0,64-0,99; P para tendência <0,001) para aquelas que consumiram 4 copos por dia ou mais. O risco relativo multivariado de depressão foi de 0,80 (intervalo de confiança 95%, 0,68-0,95; P para tendência = 0,02) para mulheres no mais alto (≥ 550 mg/d) vs mais baixo (<100 mg/d) do consumo de cafeína 5 categorias. Esse mesmo efeito não foi associado ao caso do café descafeinado.
Em síntese, o estudo longitudinal demonstrou que as mulheres que consomem café cafeinado com maior frequência apresentam um menor risco de desenvolver a doença. Investigações adicionais são necessárias para confirmar este achado e para determinar se o consumo de café com cafeína usual pode contribuir para a prevenção da depressão.
Referências
DEL PORTO, José Alberto. Conceito e diagnóstico. Rev. Bras. Psiquiatr., v. 21, suppl. 1, p. 6-11. maio 1999. ISSN 1516-4446. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44.... Acesso em: 20 jan. 2012.
LUCAS, Michel; MIRZAEI, Fariba; PAN, An; OKEREKE, Olivia I.; WILLETT, Walter C.; O’REILLY, Éilis J.; KOENEN, Karestan; ASCHERIO, Alberto. Coffee, caffeine, and risk of depression among women. Arch. Intern. Med., v. 171, n. 17, p. 1571-1578, sep. 2011. Disponível em: http://archinte.ama-assn.org/cgi/content/short/171/17/1571. Acesso em: 20 jan. 2012.
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 20/01/2012
Alterado em 20/01/2012