Ilusão
Leiga quanto aos conhecimentos da Psicologia e da Psicanálise, mas, afoita, curiosa e experiente quanto aos temas que movem e promovem as profundezas da alma, considero a existência de uma subdivisão para o termo ilusão: uma "ilusão boa" e uma "ilusão má", conquanto sejam ambas eleições das aspirações humanas.
A motivação imposta pela primeira impele o indivíduo ao desafio das circunstâncias, pois, alheio aos conflitos e agressividades, concretiza os seus desejos; enquanto a segunda, pela força destruidora que ostenta, faz com que aquele sucumba à dor da inércia.
Quando o tema se relaciona às coisas do coração, difícil esquivar-se da "ilusão má", por quase impossível a tentativa de combater a consagração do princípio da realidade, e, por conseguinte, a aspiração narcísica de salvaguarda do princípio do prazer. O indivíduo tudo faz, ainda que inconscientemente, para manter a crença no amor de quem o recusa e faz sofrer. Estabelece-se, então, uma argumentativa interna cruel, que acaba por introduzir na mente de quem ama conceitos desfigurados da realidade.
No transcorrer da vida, o convívio benfazejo ou mesmo a separação entre mundo interno e mundo externo parece ser uma devotada e interminável labuta do ser humano consigo mesmo, porque, sendo o único animal que possui o dom da criação, vive em eterno estado de tensão entre o que possui e o que deseja alcançar.
Rio de Janeiro, 6 de outubro de 2011 – 8h43