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SÍLABAS GRAMATICAIS E SÍLABAS MÉTRICAS: DIFERENTES?

Sim, são diferentes, como veremos a seguir.

1 Sílaba gramatical

Vejamos um exemplo: “Canção de amor”
Separação das sílabas gramaticais:

Can / ção / de / a / mor.

2 Sílaba métrica

O fenômeno da separação das sílabas métricas (sons) chama-se “escansão dos versos”. Sendo assim, as sílabas métricas contam-se a partir da sonoridade, ditada por elisões e outras figuras gramaticais. Todo verso de forma fixa passa, obrigatoriamente, por este processo, que é diferente no caso das sílabas gramaticais.

No exemplo anterior: “Canção de amor”

Como estamos a falar de SOM, sabemos que ninguém lê desta forma, pronunciando, detalhadamente, sílaba por sílaba. Seria, no mínimo, pedante... rs

Sílabas métricas, poéticas ou sons:

Can / ção / dia / mor

Olhem a elisão aí, na terceira sílaba: “dia”! Entenderam?

Mais um exemplo?

Tomemos, por exemplo, um dos mais famosos sonetos de Olavo Bilac. Observemos tanto a métrica, quanto as rimas, neste caso: ABAB – ABAB -

O soneto que lhes apresento é o denominado verso decassílabo heróico.

Colocarei em letras maíusculas as sílabas tônicas (fortes):

O / ra / di / reis / ou / VIR / es / trê / las! / CER / to - A
Per / des / te o / sen / so!  E eu / VOS / di / rei, / no en / TAN / to, - B
Que, / pa / ra ou / vi- / las, / MUI / ta / vez / des / PER / to - A
E a / bro as / ja / ne / las, / PÁ / li / do / de / es / PAN / to... - B

No 2º verso ocorre uma elisão na 3ª sílaba. A palavra (te) termina em vogal e a próxima palavrinha é uma vogal solitária (o). Neste caso, juntamos as duas vogais numa só sílaba poética (teo), por isso só temos 3 sílabas. Logo a seguir, ocorre outra elisão na 5ª sílaba poética. A palavra (senso) termina em vogal e as que lhe seguem são todas vogais (E eu). Faz-se a junção, mais uma vez (soeu). Ufa! Outra elisão, no mesmo verso, desta vez na 9ª sílaba. A palavra (no) termina por vogal e a próxima (entanto), também começa por vogal. Juntamos tudo (noen).

No terceiro verso há uma elisão na 3ª sílaba. A palavra (para) termina por vogal (ra) e a seguinte (ouví-las) também começa por vogal. Aqui também juntamos os sons das vogais (rou), por isso temos somente 3 sílabas poéticas.

No quarto verso há uma elisão logo na 1ª sílaba, em decorrência da vogal solitária seguida da palavra (abro) que se inicia por uma vogal. Logo à segunda sílaba, outra elisão. A palavrinha (abro) termina em vogal e a subsequente também inicia-se por vogal (as). Dessa forma, unimos a última sílaba de (abro) com a palavrinha seguinte (as), numa só sílaba poética (broas).

E / con / ver / sa / mos / TO / da a / noi / te, en / QUAN / to - A
A / vi / a / lác/ tea, / CO / mo um / pá / lio a / BER / to, - B
Cin / ti / la. E, ao / vir / do / SOL, / sau / do / so e em / PRAN / to, - A
In / da as / pro / cu / ro / PE / lo / céu / de / SER / to. - B

Di / reis / a / go / ra: / "TRES / lou / ca / do a / MI / go! - c
Que / con / ver / sas / com / E / las? / Que / sem / TI / do - d
Tem / o / que / di / zem, / QUAN / do es / tão / con / TI / go?" - c

E eu / vos / di / rei: "A / MAI / pa / ra en / ten / DÊ- / las! - e
Pois / só / quem / a / ma / PO / de / ter / ou / VI / do - d
Ca / paz / de ou / vir / e / DE EN / ten / der / es / TRÊ / las. - e

Agora, mãos à obra. Vamos treinar?
Grata pela atenção.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 17/09/2011
Alterado em 22/05/2018
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