Tiro no peito
Uma visão que me impressionou na vida, foi a de um homem morto a tiros, jogado na calçada, com os pés para a rua. Roupa branca, pontos de sangue pelo corpo todo. Percebia-se nitidamente a marca no peito, ao lado do coração. Acredito que fora morto minutos antes. As pessoas passavam ao largo, olhar de soslaio. Nunca soube se era bandido ou pessoa honesta. Lembro-me ainda, da cena aterrorizante.
Isso ocorreu no mês de março de 1997, logo nos meus primeiros dias como professora do Curso de Direito na Universidade Iguaçu, situada em Nova Iguaçu - Rio de Janeiro. Pela dificuldade de acesso, um ônibus servia aos professores que moravam em locais distantes. Era minha estreia como professora. Aliás, foi também a primeira (e última) vez que assisti um aluno entrar na sala dos professores com arma em riste a exigir, em altos brados, um orientador de Direito Penal para a sua monografia. Ante o espanto dos demais professores, que permaneceram estáticos, gritei com o aluno, ordenando-lhe que guardasse a arma. Obedeceu-me, quiçá, surpreso pela minha reação, mas continuou a falar alto. Arriscaram-nos. Arriscamo-nos.
Poderíamos ser mais alguns corpos no chão, cravados de balas. Pela curta distância que estava de nós, bastaria um tiro no peito, ao lado do coração. O aluno era carcereiro, à época. Vi e vivi. Ninguém me contou.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 9 de agosto de 2011 – 14h51
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 13/08/2011
Alterado em 21/03/2017