Índia virgem brasileira
Sou pura
e linda
e doce
e livre...
Meu seio firme
retesa-se
nas ondas do mar...
Meu corpo vermelho
esverdeia-se
ao contato da relva...
Minha boca rega-se
ao gosto das frutas...
Minhas pernas torneadas
apostam corrida
com o vento...
Sou livre...
Sou linda...
Sou pura...
Ao longe,
os deuses do mar
apontam...
Velas brancas
acenam
e anunciam a paz...
Chegam.
Invadem.
Assustam.
Seduzem.
Encanto-me naquele vestir
e encanto pela nudez...
Liberdade?
Beleza?
Pureza?
Para onde vão?...
Desvirginam a pureza da terra
e devoram-me virgem.
Impiedosos.
Brancos.
Frios.
Pelos vis metais,
meu sangue escorre
entre as pernas...
Minha beleza esconde-se
nas asas das arapongas,
minha voz dolente
cala-se nos uirapurus,
minhas feridas sujas
magoam os rouxinóis,
minha doçura aviltada
azeda o mel...
Maldita lua!
Funesto sol!
Sinistras estrelas!
Execráveis montanhas!
Todos e todas omissos!
Não ouvem meu temor,
nem meu gemido,
nem meu asco...
ignoram minha dor!
Ah! Mãe-Natureza,
és conivente!
Pindorama!
Ilha de Vera Cruz!
Terra Nova!
Terra dos Papagaios!
Terra de Vera Cruz!
Terra de Santa Cruz!
Terra de Santa Cruz do Brasil!
Terra do Brasil!
Brasil!
Do passado ao presente,
na minha terra, sou coisa-prazer...
mas, nos céus - índia -
brilho no Cruzeiro do Sul
e ainda sou pura!
Dedico este poema a todas as índias brasileiras,
do passado ao presente, esperando que no futuro tudo seja diferente.
Poema escrito no Dia do Índio - 19 de abril de 2009.
Fundo musical: Hino Nacional. Fafá de Belém