A arte de reciclar sonhos
A arte da reciclagem não abarca somente as coisas inanimadas, antes, estende-se aos sentimentos humanos. Por vezes, a preguiça ou a impaciência impedem uma análise da realidade e, então, joga-se tudo fora, na certeza de que são restos imprestáveis e de que se pode sempre começar do zero, sem prejuízo do descarte anterior.
Às vezes - e quase sempre -, naqueles pedacinhos de palavras, apagadas antes de escritas ou pronunciadas, encontravam-se os dizeres de amor tão necessários de se ouvir ou falar, ou ainda as deliberações que salvariam vidas ou alimentariam esperanças; naqueles passos tímidos impedidos de prosseguir anunciava-se o desbravar dos caminhos para as próximas lutas; naquele roçar de dedos que não se completou delineavam-se os abraços quentes que protegeriam ou embalariam; naquele piscar de olhos ofuscado proclamavam-se os olhares decisivos donde abrolhariam certeza e fé; naquele sorriso chamado de imbecil treinava-se o nascimento da felicidade, que iluminaria dias de tristeza... Ah! E, naqueles pedacinhos de sonhos, quase imperceptíveis, jogados ali naquela lata de lixo fedorenta do medo... escondia-se uma vitória!
É... desistir dos sonhos facilmente carece de sabedoria. Imprescindível a persistência, para concretizá-los. Não obstante, destacando-se raras exceções, isso a gente só entende mesmo depois que dobra a esquina dos cinquenta... E, então, sorte de quem tem sorte, tempo, saúde e força para recomeçar a reciclagem dos sonhos, mesmo que esta se realize no outono da vida.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Cabo Frio, 6 de julho de 2009 – 23h19