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TEORIA LITERÁRIA DO TANKA

 

NOÇÕES CONCEITUAIS

Sob o aspecto literal, TANKA significa poema curto (tan - curto, breve; e ka - poema ou música). Constitui-se em estilo clássico, dos mais belos e sensíveis, da poesia japonesa. Além de ser uma forma popular de poema de amor, ao longo dos séculos foi veículo para expressar interdependência com a natureza.

Esta manifestação literária – prático-sensível - do pensamento de determinados poetas, permite através da sua análise, um maior acesso ao referencial simbólico, bem como a concepção de mundo dos seus autores
(KIKUCHI, Mario Yasuo. Tanka: o poetar enquanto atividade pratico-sensível de velhos imigrantes japoneses. São Paulo, 1991. 328p. [FFLCH]. T KIKUCHI, M.Y. 1991. N. de sistema [000735249]).
 
APRESENTAÇÃO FORMAL

Importante se faz o conhecimento da apresentação formal do belo poema.

1 Quanto à estrutura dos versos

Formado por 31 sílabas poéticas, trata-se de um poema de cinco versos: 5-7-5-7-7 e divide-se em duas estrofes.

A primeira estrofe, denominada de kami no ku (primeiro verso), será um terceto, cujos versos serão formados por 5-7-5 sílabas poéticas. Contém sempre uma referência à estação do ano (kigo) e ao lugar onde se realizou a sessão; será sintaticamente completa, independente da estrofe seguinte.
A segunda estrofe, denominada de shimo no ku (último verso), será um dístico, cujos versos serão formados por 7-7 sílabas poéticas (KIKUCHI, Mario Yasuo. Tanka: o poetar enquanto atividade prático-sensível de velhos imigrantes japoneses. São Paulo, 1991. 328p. [FFLCH]. T KIKUCHI, M.Y. 1991. N. de sistema [000735249]).

O dístico não deve ser separado do terceto por espacejamento maior daquele utilizado entrelinhas, mas tão somente será distinguido por um recuo, a partir da margem esquerda, maior do que o empregado para o terceto.

2 Quanto às rimas

Forma tradicional: sem rima.
Forma da língua portuguesa: com rima ABA BB.
 
ORIGEM NO MUNDO

Pela forma clássica do TANKA (31 sílabas), nasce um processo original e lúdico de criação. Os poetas reuniam-se para criá-los em conjunto. Assim, um criava a primeira parte e o outro a segunda. Como numa grande brincadeira, criavam longas séries de versos, às quais denominavam RENKA. Obra do engenho humano, com o tempo, a primeira parte criou autonomia, espalhando-se pelo Japão sob o nome de RENKA HAIKAI ou simplesmente HAIKAI. Portanto, o HAIKAI origina-se do clássico TANKA (BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 8. ISBN: 85-7321-060-5).

Basho era um grande hakaísta, bem visto por onde passava. A cada viagem escrevia os seus relatos, em kanná, a caligrafia apropriada para a escrita dos haikais (BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 15. ISBN: 85-7321-060-5). Um deles, denominado Visita ao Santuário de Kashima, datado de 1687, expõe HAIKAIS recolhidos dos poetas que encontrava pelos caminhos percorridos a pé. Num desses poemas denominados simplesmente de HAIKAI, o poeta Monge expõe a estrutura do TANKA, que hoje conhecemos como tal:

sempre o mesmo
no céu imutável
o clarão da lua
       mil espectros de luz
       nas multiformes nuvens
(BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 15. ISBN: 85-7321-060-5).

A mais antiga coletânea da poesia TANKA, na época chamada de Waka (poesia do Japão), foi compilada no século VII (743-759), sob a denominação Manyoshu. Compõem-se de 20 volumes, 4516 poemas escritos por mais de 400 praticantes, do imperador ao simples camponês. Até hoje, a família imperial realiza no início do ano uma reunião cerimoniosa onde o imperador, a imperatriz, os príncipes e as princesas apresentam seus TANKA. Trata-se do Shinen-uta-kai-hajime. A participação popular ocorre através dos TANKA enviados pelo povo, criados a partir de tema sugerido pelo imperador.

Deve-se ressaltar que o Kimiga-yo, Hino Nacional do Japão, é um TANKA escrito por tankista anônimo que consta na coletânea Kokinshu, compilada no século X (905).
 
ORIGEM NO BRASIL

O TANKA surge no Brasil, pela primeira vez, com Teijiro Suzuki (pseudônimo Nanju), um dos primeiros imigrantes japoneses. Por outro lado, quem o implantou e divulgou na colônia japonesa foi Kikuji Iwanami.
 
DO TANKA PARA A RENGA

A RENGA consiste num encadeamento de TANKA realizado por um grupo de autores, versando sobre um mesmo tema. O sistema de produção chama-se kyōdō seisaku. A RENGA mantém-se profundamente arraigada à tradição japonesa.
 
ALGUNS TANKA DA MINHA AUTORIA
 
Tanka 10
inverno tristeza -
corpo do irmão jaz em pó
na terra natal
         restos de pequeno mundo
         talvez o maior de todos
Rio de Janeiro, 28 de junho de 2015 – 4h5
 
Tanka 8
tempestade intensa –
natureza desmorona
sonhos de uma vida
        tristes as noites inertes
        de solidão sem luar
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016 – 21h5
 
Tanka 6
cume do telhado –
debruçadas entre as calhas
flores de ipê roxo
           mais precioso o teu beijo
           borra de amor meu baton
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016 – 20h10
 
📚 Livros que abordam o tanka (tanca) e sua criação:
 
1. "Tanka: Visões de amor e natureza"
Organização: Masao Ohno, tradução e comentários de Cristovão Tezza.
Traz tancas clássicas com tradução, comentários e sugestões de construção. Obra rara no Brasil, mas profunda — ideal para quem quer sentir e entender o espírito da forma.
 
2. "Tanka & Haiku: poética japonesa". Ed. Estação Liberdade.
Autores diversos, tradução de Haroldo de Campos, Paulo Leminski, entre outros. Introdução poética e analítica à tradição lírica japonesa. Traz exemplos de tancas e haicais, com notas sobre métrica, ritmo e estilo. Excelente para compreender o caminho do tanka como forma poética viva.
 
3. "Japanese Tanka Poetry"
Autor: Makoto Ueda (em inglês)
Um dos maiores estudiosos da poesia japonesa. Fala da estrutura do tanka, sua evolução, simbolismo, autores históricos (como Ono no Komachi, Saigyo, Yosano Akiko). Ideal para leitoras que desejam ir fundo no estudo estético e histórico.
 
4. "A Little Book of Tanka"
Autor: Michael McClintock (em inglês)
Livro prático, sensível e moderno. Explica como criar tancas hoje — sem perder o espírito da forma clássica. Excelente para escritores contemporâneos.

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Texto original elaborado em 2009.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 22/01/2011
Alterado em 22/06/2025
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