Dayse e Roberto Felinto com as duas primeiras filhas, Roberta e Brena, na década de 80
ROBERTO E DAYSE FELINTO
- uma história de amor enlaçada ao Clube de Regatas Vasco da Gama -
Jamais me esquecerei daquela noite, na qual Roberto Felinto, detentor da força de mil deuses, ao cair no chão e de costas para a tabela, arremessou a bola, que obedecendo à ordem do seu pensamento, com a doçura de um pássaro entrou na gaiola, marcou o ponto vitorioso e arrancou o delírio da torcida vascaína. Ainda consigo ouvir o deslize dos seus tênis arrepiando minha alma de fã apaixonada... E as lágrimas felizes de Arnóbio Felinto, o irmão orgulhoso, parecem atravessar os anos, para neste momento misturarem-se a estas outras lágrimas que teimam, por motivo diverso, em escorrer pelo meu rosto...
Roberto e Dayse uniram-se pelo casamento e tiveram quatro filhos: as lindas Roberta, Brena e Marcela e o tão esperado Damon. Resistiram às vicissitudes da vida e entre as coisas boas nasceu-lhes a doce netinha Amanda. Amigos e companheiros, despertavam o carinho e o respeito dos meus filhos: Arnóbio Jr., Gabriel e Rafael, que admiravam a Tia Dayse sempre tão meiga, linda e sorridente e o Tio Roberto, disposto a trazer-lhes uma palavra de estímulo e afeição a cada momento. Quando me ouviam contar-lhes as proezas assistidas durante a juventude, lastimavam não terem vivido naquela época em que o ídolo Roberto Felinto assentava paixão nos corações vascaínos.
Mas, a vida prepara-nos situações inesperadas e, há pouco mais de três meses, Dayse foi-se precocemente, como uma rosa que despetala ao sabor do vento, tão misteriosa e rápida ocorreu sua partida... Roberto, por sua vez, viveu para dar, mais uma vez, o testemunho da sua força, pois no rastro perfumado da vida da sua fiel esposa, ficara-lhe a difícil incumbência de continuar a viver. Contudo, não resistiu o campeão de outrora à falta que lhe fez seu grande amor e, indiferente a quaisquer apelos, abandonou o corpo e esperou que as forças da natureza lhe arrebatassem a alma. Sua atitude só é compreendida aos ouvidos de quem relembra a voz de Dayse ecoando nas arquibancadas, enquanto o ídolo dominava o jogo: "Vai amor! Vai amor! Vai amor!" Era muito lindo ouvir a energia do pedido que o impelia sempre à vitória! Quiçá, por tal motivo, tenha Roberto desistido de permanecer por aqui, sem o apoio daquela ternura e o estímulo daquela paixão...
Na minha fantasia de poeta imagino que Dayse, mulher especial, tenha mais uma vez, de outras paragens, incentivado Roberto a seguir em frente junto aos seus herdeiros, mas, ao perceber sua tristeza infinita, no afã de protegê-lo, chamou-o com a mesma doçura de tempos passados: "Venha amor!" E, rapidamente, Roberto foi ao seu encontro envolto na bandeira do querido time Vasco da Gama ofertada, numa última vez, pelo irmão e admirador incondicional Arnóbio Felinto.
Sinto-me incompetente por não conseguir extrair do vasto repertório da língua portuguesa palavras que definam a grandiosidade do amor que estou a decantar. Mas, na modéstia que a pena me consente traçar, este texto é uma homenagem à vida ostentada por Roberto Felinto, atleta vascaíno fiel e de carreira ímpar, que alheio aos poderes da fama e aos estímulos financeiros, hoje motivadores primeiros tão comuns, dedicou-se de corpo e alma a tão somente alegrar a torcida vascaína, de cujos aplausos lembrou-se, humilde e carinhosamente, em tantos momentos da sua vida.
Embora a saudade machuque o coração de quem ficou, idealizo Roberto e Dayse felizes e apaixonados, e da forma como se prometeram anos atrás no dia do seu casamento, unidos para sempre.
Com o carinho da Sílvia Mota
e de todos aqueles que os amaram nesta vida.
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2005
Esta homenagem compõe a obra:
MOTA, Sílvia et al. Roberto e Dayse Felinto: uma história de amor enlaçada ao Clube de Regatas Vasco da Gama. In: Amigos do Tirol. Natal, 2010.
Também, foi divulgada nos sites: Movimento Unido Vascaíno e [Torcida] Força Jovem do Vasco