Hoje, um sentimento estranho apossou-se de mim.
Fui ao ginecologista para exames de rotina. Aliás, estava mesmo era preocupada com uma dorzinha no seio esquerdo, de forma constante, há uns quatro meses. Tudo começou em Cabo Frio, mas em decorrência do péssimo atendimento à saúde por aqueles lados, fui deixando, deixando. Atitude equivocada, reconheço. Com meu retorno ao Rio de Janeiro iniciei uma saga em prol da saúde.
Pois bem, aguardava minha vez, deixando os olhos correrem soltos às imagens da TV. A mente, brincando por outros universos.
Ao de repente, surgiu na telinha uma mulher a correr desesperada pelas ruas, então vazias... “Acordei” dos devaneios e agucei minha atenção ao noticiário. Mais um assalto, desta vez no bairro de São Conrado, aqui pertinho de mim. A câmera focalizou bem aquela mulher, tentando esconder-se, aflita. Meu coração entristeceu-se repentinamente.
À minha frente, um casal jovem interrompera a leitura em conjunto, para observar o mesmo evento. Mas, a medida que a jovem na tela corria desesperada, a moça à minha frente iniciava risada frenética, seguida pelo companheiro. Assustei-me, ao perceber que se divertiam. Não era uma comédia, mas uma tragédia social!
Por um momento a surpresa calou-me. Refeita, ia dizer algo, quando a enfermeira recitou meu nome. Levantei-me. Olhei-os firme. Sacudi a cabeça negativamente e entrei no consultório. Compreenderam meu olhar ou meu gesto? Acredito que não.
Ao exame físico, nada. Ufa! Que alívio! A incômoda dorzinha continua. Agora, sigo para os exames de diagnóstico. E são tantos!
Noite avançada, pergunto-me se a criança em desenvolvimento naquele ventre arrisca-se a nascer com atitudes, ideias e/ou ideais semelhantes aos dos pais que a conceberam.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 1º de setembro de 2010 – 21h35