1° de junho de 1968 (16 anos) - Sílvia Mota - Concurso Miss Estudante Vale do Paraíba.
Quando Miguel Castro, um grande amigo da família, foi até a minha casa convidar-me (para o papai, claro!) para participar do concurso, eu realizava um trabalho de biologia, com uns desenhos bonitos e nessa tarefa continuei. A visita foi muito formal e não me permitiram participar da conversa, mas, mamãe corria para lá e para cá, contando-me as reações do papai. Ao final, disse-me que permitira e até sugerira a cor do vestido - rosa choque - pois, a partir do seu pensamento, combinaria com a cor da minha pele. Ao final, vestiram-me de dourado... Bom dizer, que papai somente permitiu minha candidatura, porque não haveria desfile de maiô - as concorrentes eram muito jovens... kkkkk
À época, meu irmãozinho Salvador Augusto emagrecera muito e começara a mancar da perna direita, mas, nada sabíamos ainda a respeito do câncer. Por tal motivo, participei do concurso. Foi muito rápida a evolução da sua doença. Triste demais. Lembro-me bem.
O vestido foi confeccionado por Dna. Eunice, todo em fio metálico dourado, com apliques de flores douradas em paetês e canutilhos importados. Mamãe assim o idealizou, para que no momento em que entrasse na passarela, sob as luzes dos holofotes, reluzisse como uma flor dourada! Os brincos, criados com inspiração nessas flores, luvas de cetim preto com sapatos de gorgurão na mesma cor e meias finas douradas (um luxo, para a época!) completavam o look da mocinha de Piquete, que tremia sem parar. Afinal, era o meu primeiro desfile pelas passarelas! Tudo lindo, pois Mamãe tinha muito bom gosto, nesse sentido. Não obstante, para contrariar os seus planos, por motivos que ninguém sabe até hoje, fui a única candidata a desfilar sem música e sem as luzes dos holofotes. Também, enquanto desfilava, não leram a síntese das minhas habilidades (ou qualidades), como ocorreu com as demais candidatas.
Vivíamos a era dos transplantes de órgãos e, no momento das entrevistas com as candidatas, a Miss Estudante de Guaratinguetá foi perguntada a respeito do primeiro transplante de coração realizado no Brasil pelo Dr. Zerbini, em 25 de maio de 1968. A mim, perguntaram sobre minha experiência com os esportes, o que aborreceu muito os meus pais, pois ainda que muito jovem, reunia talento para questionamentos mais elaborados.
Fiquei em segundo lugar.
Meu inconformado pai retirou-me do baile, como se fosse a Gata Borralheira, mas, não sem antes pedir ao Tio Carlinhos que dançasse comigo pela última vez, no que foi prontamente atendido. Meu tio, de forma garbosa, exibiu-me o mais que pode, principalmente, frente à mesa dos jurados.
Dias depois, encontrei-me com papai, na Praça da Bandeira. Falava em voz alta aos amigos aposentados, que nunca mais sua filha participaria de concursos de beleza:
- As ruas de Piquete, daqui para a frente, serão a sua passarela.
E, assim foi.
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Observação interessante:
Piquetenses participantes do concurso: Sílvia Mota, Lígia e Sidneia Pereira.
À época, existia uma frase de caminhão a passeio pelas estradas de São Paulo: "Se moça bonita fosse flor, Piquete seria um jardim"... rsrsrs...
As Misses vencedoras:
Sílvia Mota (Segundo Lugar, vestida de dourado) e Lígia (Primeiro Lugar, de azul), ambas de Piquete. A candidata que ficou em Terceiro Lugar (à direita, também de azul), era de Guaratinguetá.