Meu Diário
06/07/2016 01h15
12-05-1968 - Eu e "A Escrava do Senhor", de Mariinha Mota

12 de maio de 1968 - Comemoração do Dia das Mães - Entrando no palco para declamar o poema "A escrava do senhor", autoria da minha mãe Mariinha Mota. — em Clube Elefante Branco - Piquete - São Paulo - Brasil.

1968 - Aos 16 anos (marcação da foto), no Dia das Mães - Ajoelhada, ao final da interpretação do poema "A escrava do Senhor", da autoria de Mariinha Mota - minha querida Mamãe. — em Clube Elefante Branco - Piquete - São Paulo - Brasil.

Declamei este poema num Concurso Arnolfo Azevedo. Foi escrito para que eu o declamasse. Depois, interpretei-o em Piquete, numa festa do Dia das Mães (foto abaixo). Observação: Com os poemas da mamãe, sempre arrebatei os primeiros lugares. Houve um concurso, no qual mamãe arrebatou 8 medalhas, entre essas, com o poema "Tudo passa", ganhou a medalha de ouro e com "Joana de Cusa" (o poema perdeu-se), a medalha de prata. Como intérpretes, ganhei o primeiro lugar, com "Joana de Cusa", e, Tio Carlinhos, o segundo lugar, com "Tudo passa". Invertemos as posições... rsrsrs... Dois poemas da mamãe empataram no terceiro lugar. Foi um show!!! Chamavam por Mariinha Mota e entregavam-lhe o prêmio. Mamãe voltava para a plateia, sob aplausos retumbantes... e era chamada novamente. Foi assim, até receber as 8 medalhas. Arrebatou TUDO!!! O concurso foi dela, somente! Consagração total! Nunca vi coisa mais linda! Papai só faltou explodir de orgulho! Lindo, lindo, lindo!!! Todos os declamadores dos seus poemas eram filhos de Piquete. Se não me engano, meu irmão Miguel Mota também participou desse concurso. Era menino, ainda.

Eis o poema referente à foto:

A ESCRAVA DO SENHOR

Quando João, o discípulo amado, anunciou
à Maria a prisão do Mestre, ela rogou
ao Senhor dos Senhores, toda em aflição,
que lhe poupasse o filho de seu coração.
Não era o seu Jesus, Divino Embaixador?
Não lhe anunciara o Anjo, com celeste ardor,
que ilustraria Ele o nome de seu povo
incutindo nas mentes sentimento novo?
Seria um nobre Rei, diferente, amoroso,
dando visão ao cego, curando o leproso.
À sepultura, Lázaro Ele arrancara em glória,
e a vida então lhe dera, em madrugada flórea...
Seu nome era lembrado em glorificação.
Todos lhe decantavam a predestinação.
E Maria confiou, ao Todo Poderoso,
preocupação e súplica em pranto copioso...

Veio dizer-lhe, entretanto, o discípulo João,
que o Messias já fora encarcerado então.
E Maria voltou com fervor à oração.
Implorou novamente o favor celestial.
Confiaria no Pai com fervor sem igual.
Desejava enfrentar, desassombradamente,
a situação. Até já lhe passara na mente,
procurar por alguém, alguma autoridade,
mas era muito frágil e cheia de humildade.
Certamente que Deus, de bondade infinita,
salvaria Seu Filho, para sua dita.

Mantinha-se Maria sempre vigilante.
Afastou-se de casa e ganhou, ofegante,
a rua, e da prisão ela se aproximou.
Muitas vezes, aos guardas, triste, ela implorou
o favor de um instante no cárcere entrar;
ver seu filho Jesus e um beijo lá lhe dar.
A noite já ia alta e ela ali ficava.
Entre a angústia e a confiança, a Virgem em dor velava...

Mais tarde, João voltou, contando-lhe em seguida,
que a causa de Jesus já se achava perdida,
pois pelos sacerdotes fora ele acusado.
O terrível Pilatos tinha até hesitado,
enviando o Bom Rabi ao Herodes infame,
sem que o povo judeu por justiça pedisse.
Maria, resoluta, abrigou-se num manto,
e saiu a orar, os olhos sempre em pranto.

Que terrível aflição a dessa Mãe Sublime!
Coração sofredor que em lágrimas se exprime!
Que fizera Seu Filho, para vir sofrer
as injúrias e o opróbrio, sem os merecer?
Mas, oh! Que sofrimento! Que horror! Que agonia!
Seu Jesus já envergava o fato de ironia,
tendo às mãos uma cana e à cabeça a coroa,
trabalhada em espinhos donde o sangue escoava...
Ela quis libertar-lhe a fronte dolorosa,
mas o Filho, sereno, enviou-lhe amorosa
resposta em Seu olhar, tão bom, resignado.
E Maria seguiu seu Filho idolatrado...

Relembrou nesse instante, a infância de Jesus,
aquela linda estrela que lançava a flux,
o sinal deslumbrante do Seu nascimento.
Registrado em seu íntimo ficara o evento.
A multidão parou... Num esforço supremo,
Pôncio Pilatos, juiz, usa um recurso extremo:
Convida a decidir a turba então loquaz,
entre Jesus divino e o torpe Barrabás.
E Maria sentiu a esmagadora afronta.
Em doloroso pranto viu-O tomar a cruz
e vergando sob ela o corpo de Jesus.
O Rabi caminhava, o dorso vergastado,
com furor sem igual, por um infeliz soldado.
Angustiada, lembrou-se, repentinamente,
do Patriarca Abraão que levara o inocente
Isaac até o altar do sacrifício, e então,
Jeová lhe falara em glorificação.
Certamente que Deus lhe escutaria a prece,
e na hora extrema um Anjo interviria.

No entanto, a Mãe Sublime, dolorosamente,
viu, entre dois ladrões, no madeiro inclemente,
Seu Filho ser pregado. Triste felonia!
O Pai não lhe escutara a prece da agonia...
Em grande desalento ouviu a voz do Filho,
recomendando a João o seu perene auxílio.
Registrou humilhada, o Verbo derradeiro...
Mas, quando já pendia inerte no madeiro
a cabeça sublime, força misteriosa
apossou-se da Virgem e ela ouviu, ditosa,
a saudação celeste, sublime e grandiosa.
Jesus era Seu Filho amado com fervor,
mas era o Mensageiro do Grande Senhor.
Compreendeu que possuía sonhos materiais.
Submissa, curvou-se às forças celestiais,
trazendo, ainda, lágrimas no olhar tristonho.
A Virgem reviveu sua vida qual num sonho.
Compreendeu afinal, a Justiça, a Vontade
do Pai sempre amoroso e cheio de Bondade.
Ajoelhando-se aos pés da cruz e do suplício,
Maria repetiu sem dor nem sacrifício:
“Eis aqui, meu Senhor, a Sua Humilde Escrava.
Cumpra-se sempre em mim, segundo a Sua Palavra!”

"Eu também, a exemplo de Maria, guardei minhas esperanças até o fim. Quando cheguei à conclusão de que nada mais poderia fazer pelo meu filhinho, curvei-me à Vontade do Todo Poderoso.
Restam-me, agora, as lágrimas de saudades que não sei reprimir porque, infelizmente, estou muito aquém da grandeza espiritual
Daquela que foi a Mãe de Nosso Salvador.

Mariinha Mota"

O emocionante comentário aqui exposto, foi grafado, por minha Mãe, ao final do poema, também escrito à mão.


Publicado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 06/07/2016 às 01h15
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