Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Os sonhos brincavam por entre as letras. Havia esperança, luar aos cabelos e sol no horizonte do corpo. As cores da Natureza assumiam o tom dos meus desejos e o canto dos pássaros harmonizava-se com os meus suspiros.
Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Cada folha escrita, sob signos criados por mim. Havia mistério na profundeza do amor que nascia, morria e renascia, num lusco fusco de emoções ainda incompreendidas pela imarcescível pureza dos sentimentos que se formavam.
Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Pôneis encantados cavalgavam pelos campos da imaginação. Havia desejo pelo desconhecido. Fortes indícios da poeta saltitavam, ora alegres, ora tristes, pelos ramos do pessegueiro que florescia aos novembros.
Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Sorrisos de vida e lágrimas de morte nasciam com destino. Havia clamor interno pela justiça e o amor escorria pelas mãos. O amor... aquele sentimento que se enraizava no meu coração, ao mesmo tempo que me elevava aos céus.
Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Ninguém o saberia, a não ser eu. Havia segredos inconfessáveis do que jamais vivera e nem sabia se viveria um dia... Quimeras emocionais. Vívidas, contudo. Fogo, sob a forma de palavras. Em nada vividas.
Meu último diário, escrevi aos 16 anos.
Hoje, aos 64 anos, inicio outro. Quiçá, o verdadeiro último diário desta minha existência. Ainda convivo com a emoção perfumada de outrora, mas, também, com a renovada sensação de solitude amealhada através do tempo.
Meu último diário, talvez seja esse, aos 64 anos de idade...
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz