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Perdas - [primeiro "soneto alexandrino", aos 16 anos]

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Chego de uma visita à minha cidade natal: Piquete, interior de São Paulo. Ausente por quase dois anos, um detalhe do meu dia faz-me escrever estas linhas, antes da postagem do poema em epígrafe.

Sou filha de Geraldo Sílvia Mota (in memorian) - professor, escultor, compositor e arranjador, dono de um sopro inigualável ao piston; e de Mariinha Mota - professora, poeta, trovadora, cronista, romancista, historiadora, jornalista, biógrafa, formada em Pedagogia e Letras - inglês e português.

Mamãe é detentora de grande número de prêmios em poesia e prosa, nacionais e internacionais. Foi eleita pela revista belga "Poemas" para o seu "Tableau D'Honneur - 1982", como uma das seis intelectuais brasileiras de maior renome internacional. Publicou diversas obras, muitos trabalhos traduzidos para o francês, inglês, espanhol e grego. São composições de sua lavra: Ascese (sonetos), Ascetério (poemas), Acendalhas (poesias infantis), Vida Afora (trovas), Per Viam Vitae (trovas), Três Artistas Baipendianos (biografias), Res Non Verba (crônicas), Filipe II e sua História (romance) e Bárbara Heliodora e a Inconfidência (estudo histórico).

O nome da minha linda mamãe figura nas seguintes antologias: Trovadores do Vale, Crônicas de Barra Mansa, Poetas Valeparaibanos, Roteiro Biobibliográfico da Poesia Feminina no Brasil, Anuário de Coletânea de Trovas Brasileiras - 1978 e 1979, Poetas do Brasil - 1977, 1978 e 1979, A Trova no Brasil, Escritores do Brasil - 1978 e 1979, Coletânea de Contos e Poesia e Dicionário Conciso de Autores Brasileiros. Pertence a diversas associações culturais: Academia de Letras do Vale do Paraíba, cadeira número 27, patronímica de José de Anchieta; Academia de Letras de Uruguaiana, Academia Internacional de Letras "Três Fronteiras" (Brasil, Argentina e Uruguai), Academia de Letras da Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul, Academia de Trovadores da Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul, Associação Uruguaianense de Escritores e Editores, Academia Internacional de Heráldica e Genealogia, Academia Internacional de Ciências Humanísticas e Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana. É, ainda, detentora das seguintes láureas: onze medalhas de ouro e prata e inúmeros diplomas conquistados em concursos de declamação no Vale do Paraíba e Sul de Minas, diploma de Honra ao Mérito do Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, diploma e medalha "Mérito Cultural - 1978" da Federação de Academias do Sul do País, diploma e medalha "Mérito Cultural - 1979", da Academia de Trovadores da Fronteira Sudoeste do Rio Grande do Sul e Troféu Evangelina Cavalcanti - Recife, Pernambuco.

Nada, nenhum título ou prêmio fez com que mamãe deixasse de ser mulher simples, devotada ao seu primeiro e único amor, mãe extremada, patriota em essência e professora primária ativa na missão de transformar os pequeninos seres que se colocavam aos seus cuidados, em cidadãos conscientes dos seus deveres.

Aos 55 anos de idade, mamãe evidenciou o Mal de Parkinson. Coube à minha irmã Maria Auxiliadora, médica, anunciar-lhe o triste veredictus, que nunca foi aceito pela nossa mamãe. E, a contradizer o senso comum, aproximadamente, 15 anos depois, a grandiosa vida intelectual que ostentou não lhe foi suficiente para evitar o Mal do Esquecimento. A Esclerose Cerebral a dominou. Hoje, é uma criancinha, sob os cuidados de Miguel, meu irmão caçula, de Maristela, minha cunhada, e de duas cuidadoras que se revezam entre os dias e as noites. Por vezes, nem se lembra de quem sou, chegando mesmo, a brigar comigo quando afirmo que sou a sua filha Sílvia.

Hoje, encontrei mamãe um pouco entristecida. Altos e baixos da malvada doença. Beijei-a e ofereci-lhe uma caixa de deliciosos bombons. Aos poucos, contei-lhe a respeito das minhas últimas vitórias pelos campos da Literatura, falei-lhe dos prêmios recebidos e da minha nomeação no âmbito do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz. Enfim, conferi-lhe todas as glórias das minhas vitórias todas. Olhou-me com um olhar endurecido pela moléstia, mas, um olhar tão sublime, como somente as mães podem ter! Fitou-me calada e longamente, enquanto lhe afirmava que jamais chegaria a alcançar um décimo do seu significado para a cultura nacional, mas que tudo faria para ser, ao menos, um pouquinho parecida. Murmurou baixinho: “Eu não sou mais nada!” Beijei-a. Fitou-me. Quase uma estátua. Meu irmão Geraldo Mota, observava. Filho sensivelmente apaixonado, engoliu em seco o profundo olhar da mãe querida, que parecia nada ver. Mas via. Passei as mãos naqueles cabelinhos finos, branquinhos; desci os dedos no rosto sem rugas (incrivelmente, sem rugas!), rosado. Beijei-a, novamente. E, no afã angustiado de reviver-lhe significados, declamei uma das suas trovas mais premiadas. Meu irmão emocionou-se: “Como adoro essa trova!” Mamãe olhava-me, calada. Relembrei-lhe a beleza dos seus sonetos alexandrinos. E, completei, carinhosa: “Tenho escrito alguns... e, quem foi que me ensinou a escrevê-los? Quem foi?” Naquele momento, entrevi (imaginei?) um clarão de orgulho materno no seu olhar e um tênue sorriso, sem expressão, aflorou-lhe ao canto dos lábios. Minha estátua querida sorria. Compreendia minhas palavras? Parabenizava-me? O que se passou nos meandros daquela mente, ninguém jamais saberá! Não, mesmo? Pois eu juro que alcancei o significado daquele silêncio, juro!

Momento de retornar a São Paulo, onde me encontro a resolver situações particulares...

Ao despedir-me, mamãe murmurou, quase imperceptivelmente: “Ora por mim, minha filha!... Cuidado! Vai com Deus!” E, eu - que nem sou cristã - fui somente uma filha querida a responder: “Fica tranqüila, mamãe. Fica com ele, também!”

Agora, pela madrugada, com lágrimas nos olhos e ao som de uma das suas canções preferidas reconheço, em mim, os efeitos do Amor e da formação humanística que me foi transmitida por essa mulher maravilhosa que é minha Mãe – Mariinha Mota - exemplo de Força e de Fé, inigualáveis! Por tal razão, publico meu primeiro soneto alexandrino, escrito aos dezesseis anos de idade e o ofereço, para sempre, ao sublime e sensível sorriso escultura que, na tarde de hoje, me foi ofertado por minha querida mamãe.

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Perdas

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Bolhinhas de sabão, o vento está tão forte!
Vai levá-las prá longe, distante do além.
Bolhinhas de sabão, como eu não tenho sorte!
Vocês estão levando os meus sonhos também...

Se todas vão partindo em busca de aventura,
de novas coisas belas, mundos mais risonhos,
de que me vale tudo? Somente a desventura
já chora de tristeza ao me roubarem sonhos...

Bolhinhas de sabão, bolhinhas de sabão!..
Já não me escutam mais. Partiram na ilusão,
tal qual num dia, há tempos, eu também parti...

Mas, tudo era tão triste e eu pude regressar...
Bolhinhas de sabão!!! É tarde. Vão-se estourar,
evaporando os sonhos que jamais vivi!


Sílvia Mota, quando menina de Piquete.
Primeiro poema escrito após a morte do meu irmão Salvador Augusto, vitimado pelo câncer.
São Paulo, 21 de janeiro de 2010 – 2h07

*** Mantive algumas falhas na marcação das sílabas fortes (para manter o ritmo perfeito deveriam cair nas segunda, quarta, sexta, oitava, décima e décima segunda, como sempre faço): uma ao segundo verso da primeira estrofe e outra ao segundo verso da última estrofe. Também, as falhas decorrentes do término de alguns primeiros hemistíquios: segundo verso da primeira estrofe; segundo e terceiro versos da segunda estrofe; terceiro verso do primeiro terceto; segundo e terceiro versos do último terceto. Falta-me coragem para corrigi-las, e, também, para deixá-las desapercebidas... Eita professora chata!!! Por outro lado, continuarei a denominá-lo, com muito orgulho: "Meu primeiro soneto alexandrino, aos 16 anos de idade."

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 06/02/2010
Alterado em 01/05/2019
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